Cozinheira, pesquisadora e gestora, Marina Araújo compartilha detalhes sobre os cinco anos do Raiz Cozinha Brasileira

Chef executiva do Raiz Cozinha Brasileira, Marina Araújo não tinha a gastronomia como sonho de carreira profissional, mas bastou experimentar para sentir que tudo se encaixava. Aos 23 anos iniciou sua trajetória na cozinha, inspirada por sua mãe, cozinheira de mão cheia que encontrava na comida a oportunidade de complementar a renda.
Uma cearense desenrolada, Marina acumula uma vasta trajetória, não só na cozinha, mas também com participações em programas de TV, como o The Taste Brasil e o Que Seja Doce, do qual foi vencedora, ambos da GNT. Além de cozinheira, ela é pesquisadora e diretora do Mercado AlimentaCE, um equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará. Em 2023 e 2024, ficou entre os indicados na categoria Melhor Chef de Fortaleza no prêmio Melhores Sabores da Cidade.
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Defensora da cultura alimentar brasileira, a chef conta que sua culinária “é brasileira e bebe nas fontes da cozinha sertaneja, africana, indígena e quilombola”. Para ela, a comida representa um “elo que atravessa relações em todo o mundo”.
Ao Sabores da Cidade, Marina contou detalhes da sua trajetória profissional, inspirações e desafios de ser uma mulher negra na cozinha, em uma posição de liderança, frequentemente contestada pela estrutura social. A chef também compartilhou conselhos para quem deseja seguir a profissão, além de um pouco sobre quem é a Marina quando não está na cozinha.
A conversa ocorre em meio aos cinco anos do Raiz Cozinha Brasileira. Quanto ao empreendimento, Marina traz um pouco de novidades que estarão ocorrendo no restaurante em 2025.
Confira a entrevista completa
Sabores da Cidade: Marina, como a gastronomia entrou na sua vida? Sempre foi a carreira dos seus sonhos?
Chef Marina Araújo: A gastronomia entrou na minha vida através da minha mãe. Ela era uma grande cozinheira! Dedicada ao que fazia, eu cresci vendo ela cozinhar com amor e respeito a essa profissão. Ela era funcionária pública e a cozinha era a maneira de ela complementar a renda familiar de mãe solo.
Não era a minha profissão de sonho, na verdade eu só pensei em ser cozinheira muitos anos depois que minha mãe se foi, ela partiu eu tinha só 16 anos. Só comecei a cozinhar com 23. Antes disso, tinha outra ideia do que ser, mas quando comecei a cozinhar foi como se a minha vida inteira se encaixasse.
O que a comida representa para você e como ela reflete sua visão de mundo?
A comida é o elo que atravessa relações em todo o mundo, de todas as pessoas. Seja ela daqui do lado ou do outro lado do mundo. A comida representa quem somos, como somos e como vivenciamos, ela desenha nosso lugar na sociedade como um todo. Para mim, a comida é a forma mais humana de cuidado, de atenção. E a cada jeito diferente que pensamos a comida e o comer, vai nos moldando enquanto seres humanos individuais e no coletivo.
Na sua jornada como chef, quais foram os maiores desafios?
Ser uma mulher negra na cozinha é um grande desafio nessa sociedade machista e branca em que vivemos, com certeza o meu maior desafio sempre foi ser vista logo de cara com o respeito que mereço. Historicamente, a posição de mulher negra na cozinha sempre foi de submissão e serviço, o lugar de liderança, protagonismo, criatividade até hoje é negado por isso, por esse histórico nefasto.

Como define a cozinha que você faz?
Sim, minha cozinha é brasileira e bebe nas fontes da cozinha sertaneja, africana, indígena e quilombola. Durante muito tempo me pautei na gastronomia portuguesa, mas hoje em dia prefiro dar espaço e atenção para outras referências no meu cotidiano.
Falando em processo criativo, como você se inspira para criar novos pratos?
Em tudo, me inspiro na arte, nos ingredientes e em seus aspectos naturais, me inspiro na mistura de referências, pensando sempre em dar novos usos a antigos hábitos que eu tenho nas minhas preparações.
Qual conselho você dá para quem está iniciando na gastronomia e tem o desejo de se tornar um grande chef?
Nem tudo vale à pena! Beba água! Tente descansar! Tente não ficar de ressaca na folga, vá ver o mar, estar com os amigos, ver a família. Leia, estude, veja filmes! Um grande chef só existirá se existir uma grande pessoa por trás.



O Raiz está completando 5 anos agora em 2025. Como tem sido comandar a cozinha do restaurante? O que você destaca nesta trajetória?
O raiz vem com cada dia que passa mais sabor, tempero e pratos bonitos. Eu hoje sou chef executiva, a cozinha é comandada por um time de chefs de operação muito competente. Darlysom Nóbrega, que é o responsável principal, é uma pessoa que admiro demais e que “rege o ballet” de forma excepcional. Destaco a potência de sabor que fomos adquirindo ao longo do tempo. Isso só é possível com muita dedicação, atenção e bons ingredientes.
O que podemos esperar do Raiz após esse marco dos 5 anos? Há alguma novidade que possa nos contar?
A novidade é que estarei lá em alguns fins de semana deste ano pelo salão, com produtos cearenses da nossa cultura alimentar, oferecendo para os clientes provarem e adquirirem
se quiserem. São produtos que vão fazer parte das nossas receitas e que resolvi usar o espaço do raiz para divulgar eles ainda mais.
Curiosidade: se você tivesse que preparar um prato para uma pessoa ou personalidade muito especial, qual prato você faria? E por quê?
Seria para o Nego Bispo. Um pesquisador, poeta, ativista quilombola que se encantou ano passado. Eu faria um feijão que nem aprendi com as cozinheiras que passaram na minha vida. Seria um agradecimento pela sabedoria e generosidade que ele teve durante toda a sua vida a serviço da produção de conhecimento sobre a cultura brasileira pelo viés afrocentrado.
Quem é a Marina Araújo fora da cozinha? O que gosta de fazer e o que te representa?
Corredora amadora, adora uma musculação, ler, estudar assuntos que eu gosto, viajar para viagens de aventura (amo!!). Amo experimentar novos esportes. Viver em movimento me representa.

Serviço
Raiz Cozinha Brasileira
Redes sociais: @raizcozinhabrasileira
Endereço: Av. Washington Soares, 3300 – Edson Queiroz
Funcionamento: Dom a Qui de 11h às 23h | Sex e Sáb de 11h às 00h