
Felipe Machado, um paulistano de coração cearense, natural de Santo André. Chegou a Fortaleza sem ter um caminho certo, mas logo trilhou a sua história. Há 12 anos no ramo como bartender, ele começou como garçom, mas logo se destacou na arte dos cocktails.
Uma vida marcada por superações e pela empatia de muitas pessoas, Felipe pegou gosto pelos drinks nos momentos com os amigos. Hoje, o profissional é reconhecido em Fortaleza, o que rendeu uma indicação no prêmio Melhores Sabores da Cidade 2024.
Ao Sabores da Cidade, o bartender, atualmente no restaurante Amecari, contou como tudo começou, suas referências, sua trilha para chegar em um nível de referência no mercado e as provações que passou após um acidente em 2017. Confira a entrevista na íntegra abaixo.
Sabores da Cidade: Felipe, como você iniciou no mundo dos drinks? O que te motivou a entrar nessa área?
Felipe Machado: Tenho 37 anos 12 anos no Ramo como Bartender, sou Natural de Santo André, em São Paulo (SP). Eu sempre falo sobre o “dom” que Deus nos dá, mas vem de Família começando pela minha avó paterna que cozinhava maravilhosamente, o seu frango ao molho com batata era dos deuses. Minha tia tinha uma mão maravilhosa para patisserie, minha irmã mais velha uma boleira maravilhosa, meu tio chef de cozinha com especialização em cortes e churrasco.
Então, da minha adolescência até os meus vinte poucos anos ainda não tinha me encontrado, mas nesse tempo de primeiros empregos me apaixonei pelo atendimento, por encantar e ver o sorriso do próximo, passando nesse tempo por MC Donald’s falo com ênfase que ali foi minha faculdade onde aprendi muito nos meus quase três anos de empresa.
Eu não posso dizer que tive uma motivação, mas o dom foi nascendo, fazendo alguns drinks em churrasco com amigos, começando de vagar com caipirinhas, caipiroscas e fui pegando gosto, entrei no mundo dos eventos em SP mas sem muito conhecimento.
Até que chego a Fortaleza através de um primo para trabalhar junto com ele em sua empresa, não dando certo depois de algum tempo decidi ir atrás de emprego na minha área, sem conhecer ninguém, a não ser uma cearense maravilhosa que hoje é minha esposa, Daniele, que sempre acreditou em mim mesmo naquela época em que ainda estávamos a nos conhecer.

Essa maravilhosa mulher me ajudou muito a entender um pouco da cidade, da cultura, então sem saber por onde começar fui atrás de emprego na Praia do Futuro, subia e descia aquele calçadão entregando currículo, aí que fica interessante, consegui uma vaga na Barraca Santa Praia, não havia vaga de Bartender, então me ofereceram uma vaga como garçom, mas como sempre fui apaixonado pelo atendimento, aceitei.
Onde comecei a conhecer pessoas boas, empresários que começaram a gostar do meu profissional, do meu atendimento e ninguém sabia que eu era Bartender e dali se inicia uma linda história na minha carreira e o quanto eu sou grato a essa cidade maravilhosa que me acolheu tão bem, e tenho orgulho de dizer que me considero um cearense com sotaque paulista.
Quais os principais desafios enfrentados por você nesse ramo?
Em relação a principais desafios, não quero só falar de mim, mas de todos os profissionais, porque o que enfrentamos nesse ramo são falta de estruturas que nos entregam, pouco investimento na área, infelizmente pouca valorização dos profissionais, em relação a financeiro e muitas outras coisas.
Nós, profissionais, dedicamos muito tempo e estudo, porque para estar nesse ramo, nessas condições, é porque realmente somos apaixonados pelo o que fazemos. Então, fica uma dica aos gestores e empresários, valorizem seus profissionais de A&B, procurem saber mais sobre o que precisam, ser mais humano, invistam em pessoas, seu maior investimento é treinamento, processos, estrutura, alimentação.
LEIA MAIS | Os melhores ovos de Páscoa de Fortaleza em 2025
Sempre falo que “O cliente ele não é fiel, mas cliente bem atendido sempre volta”, ou seja, dependemos dele pra crescer no mercado. Outra coisa que sempre falo muito é que vamos sempre precisar de pessoas, por mais que seja uma frase forte ou de brincadeira, me desculpem de antemão, mas é muito verdadeira.
Como é o processo de criar bebidas autorais? Em que ponto você percebe que o drink ficou ideal?
Sempre necessita de muito estudo e dedicação, começando a construção base pelo destilado escolhido, o Ceará, o Nordeste como um todo, é riquíssimo em insumos, cultura.
Sem falar que hoje precisamos de muitos testes para chegar no ponto que queremos, entre sabores, equilíbrio, qualidade e isso conseguimos com pessoas de paladares diferentes experimentando, principalmente nossa brigada de salão, aqueles profissionais que estão de frente vendendo, que acreditam em nossa criações e conseguem repassar toda a experiência dos nossos cocktails.
Quais as suas inspirações para criar uma nova bebida?
Aqui em Fortaleza eu amo me inspirar no nosso clima, sempre trazendo cocktails refrescantes,
carbonatados. Gosto muito de trazer memórias afetivas nos cocktails, histórias da cultura nordestina, que é linda e forte.
É muito gratificante ver nossos clientes a cada gole voltar à infância, sorrindo, com olhos brilhando, encantados quando contamos a história de cada drink. Aí conseguimos realmente entender que tudo isso vem é gratificante, que valeu a pena toda dedicação, inspiração e amor pela profissão.
Conta um pouco sobre os lugares por onde passou.
É muito interessante falar sobre os lugares que eu passei, que não foram tantos assim, mas foram lugares que eu passei que me deram muita oportunidade, onde eu pude conhecer muita gente, muita gente importante, que me ajudou, diretamente e indiretamente.
Eu sempre digo assim, o quanto a gente olhando para trás hoje, o quanto é maravilhoso ver o que Deus faz em nossas vidas, né? E por eu passar pela Santa Praia, iniciando ali a minha trajetória, conhecendo as pessoas, conhecendo Fortaleza, como eu não conhecia nada por aqui, e fui atrás do meu espaço, fui galgando de pouco a pouco.
E na Santa Praia eu entrei como garçom, porque na época não tinha vaga para bartender, e eu aceitei, porque eu adoro um desafio, então eu aceitei. E foi ali que tudo começou, as pessoas que eu comecei a conhecer, as pessoas mais importantes, as pessoas que me ajudaram, empresários que começaram a gostar do meu trabalho, da minha dedicação, da minha educação, do meu atendimento.
Então, a Santa Praia abriu portas, né? E eu falo que hoje eu olho para trás e vejo que dali, até hoje, nasceu muita coisa, né? Então, passei mais ou menos um ano na Santa Praia como garçom, aí, pessoal, depois ninguém sabia qual era bartender, aí uma das gestoras sócias da barraca ficou sabendo que eu era, acabei fazendo alguns eventos de final de ano dentro da barraca mesmo, eventos particulares de confraternização e tal.

E, a partir dali, nasceu uma oportunidade para mim chefiar o bar da barraca Praia Brasil, a segunda barraca aberta em sentido de beach tennis, que traz esse público, que era um cliente da Santa Praia, né? E ele me convidou para que eu pudesse chefiar o bar, fazer a carta de coquetéis, abrir a barraca. E, dali, eu comecei a conciliar entre barraca, comecei a chefiar o bar do antigo Country Hall, que é uma casa noturna que ficava ali em Washington Soares. Então, eu trabalhava lá de final de semana, chefiava o bar de lá, fiz a carta de coquetéis de lá, do Country Hall, e aí saí da barraca Praia Brasil, continuei só no Country Hall.
Saindo da barraca Praia Brasil, deixando de atuar no Country Hall, surgiu a oportunidade e o desafio de eu trabalhar em uma das melhores casas dentro de Fortaleza que já teve, onde ela não existe mais, que é o Cavalieri.
Cavalieri Confraria, do empresário Felipe Queiroz, do grupo Edson Queiroz, um cara extremamente íntegro, um cara que confiou em mim, acreditou no meu potencial. Mas falando sobre isso, por todas as casas que até agora eu citei, tudo isso veio do início de quando eu trabalhava na Santa Praia. São pessoas pontuais que tinham participação indireta ou direta nessas minhas participações de outra casa.
É isso que é interessante. Olhando hoje para trás, eu vejo quantas pessoas foram importantes para que eu pudesse subir degrau por degrau para poder chegar onde eu cheguei. Então, eu cheguei no Cavalieri no início de 2017, abrindo a casa, eu e mais um bartender. E foi uma experiência incrível, uma experiência maravilhosa, uma casa linda, uma casa que me dava toda a estrutura para poder trabalhar, onde eu poderia fazer os meus testes, minhas alquimias.
O Cavalieri, para mim, foi muito importante na minha carreira. Eu falo hoje, falo para todas as pessoas com ênfase nisso, que o Cavalieri foi uma das casas que abriu portas, que me fez crescer como profissional, que me fez cada dia estudar mais, procurar mais, pesquisar mais. E tudo isso, como eu já disse, em relação à estrutura, ao profissionalismo, pessoas que acreditam em você.
Então, o Felipe Queiroz foi muito importante na minha vida, na minha carreira. Mais para frente eu vou contar um pouquinho dessa história. Mas assim, falando sobre as casas que eu passei, depois do Cavalieri aconteceu algo inesperado na minha vida, mas logo em seguida fiz a carta de coquetéis do Ioiô Petiscaria, que é uma casa também muito legal, empresários também que dão ouvido. Passei pouco tempo no Elliot, que é outra casa do mesmo grupo do pessoal do Ioiô.
Passei pelo antigo Eat Massas, do empresário Ronaldo Carvalho, um cara também que eu conheci lá na Santa Praia, um cara também que me deu oportunidade, que me ajudou muito nos momentos mais difíceis da minha vida. Eu sou muito grato, muito grato mesmo a esse empresário, que era o dono do, hoje já fechado, o Eat Massas. Massas artesanais, uma comida italiana artesanalmente perfeita.
E fui fazendo as minhas consultorias, as minhas cartas de coquetéis em algumas casas, até chegar no Amecari, onde o Frederico Jayme já me conhecia desde 2017, tivemos um bate-papo, alguma coisa assim, e o tempo passou e eu acabei reencontrando ele com essa ideia maravilhosa que ele tem, dessa casa maravilhosa que ele abriu.
Estou aqui no Amecari, já vai fazer quase um ano que a gente está com a casa aberta. É um empresário que, além de ser empresário, é um chefe de cozinha e um ser humano incrível, um cara que me apoia, que me dá dicas com a experiência que ele tem, é um cara que não tem nem o que dizer, um ser humano que é o Frederico Jayme, um cara que acreditou realmente em mim, no meu potencial, que acredita nas minhas ideias, nas minhas loucuras.
Mas pontualmente são as casas que dá para destacar em ênfase. Também antes de vir para o Amecari, eu passei pelo Loft Café, do empresário Ricardo Ari, uma casa lindíssima, uma casa de jazz, de blues, uma casa clássica. Um cara também que me conhecia lá do Cavalieri, uma coisa que eu fiz ponto também lá atrás, um cara que gostava do meu atendimento, gostava do meu trabalho, da minha educação, sempre quis que eu trabalhasse com ele. E até que surgiu a oportunidade de eu trabalhar, passar um tempo lá no Loft, e foi muito bom o tempo que eu passei por lá.
Como tem sido atuar na carta de drinks do Amecari?
Está sendo uma experiência incrível, trazendo história dentro da literatura de José de Alencar “Iracema”, histórias do nosso Norte e Nordeste com insumos regionais, sem falar que ter o Chef como Federico com sua experiência é fantástico, é um ser humano incrível, enquanto um profissional, como ele acreditou no meu profissional pra assumir o bar do Amecari é muito satisfatório, dá muito mais prazer em criar, executar, atender. Ou seja, estou muito feliz por fazer parte desse projeto lindo, então fica mais leve atuar e criar os cocktails.

Você foi indicado no Melhores Sabores da Cidade 2024. O que isso significou para você?
Quando o Chef me mandou mensagem, lembro como se fosse hoje, era em torno de 1h30 da manhã, me dando os parabéns pela indicação. Eu não entendi nada, aí abri o link que ele me enviou e vi que meu nome e o dele estava lá representando o Amecari. Eu me emocionei muito, não conseguia dormir.
Mas vou resumir o porquê desse sentimento todo. Quando eu ainda estava no trabalhando no Cavalieri, no dia 10 Dezembro de 2017 as 2h da manhã sofri um acidente de moto, onde ali parou a minha vida de uma forma muito brusca me impossibilitado de fazer o que mais gostava.
Fraturei a perna (fêmur), resumidamente foram seis anos de muita luta, dor e sofrimento, totalizando 12 cirurgias o encurtamento da perna direita em 8cm,meu joelho n dobra 100%, os dois primeiros anos entrei em depressão profunda, onde o que me salvou e tirou disso tudo foi o amor pela coquitelaria.
Então decidi que mesmo com as pernas cheias de ferro (fixador externo), andando de muletas sem poder colocar o pé no chão, fazia alguns trabalhos com pessoas que sempre aceitaram no meu potencial e no meu esforço, então essa indicação ao Sabores da Cidade, devo muito a essas pessoas que acreditaram em mim, que não teve preconceito, que me ajudaram no momento mais difícil da minha vida.
Gostaria de citar aqui o empresário Felipe Queiroz dono “Cavalieri” que viu a minha dificuldade de se tratar no SUS onde passei 1 ano em fila de espera por cirurgia, e me agraciou na época com melhor plano de saúde da Unimed sem ter obrigação nenhuma.
Ronaldo Carvalho dono Eat Massas que conheci anos atrás lá na Santa Praia, que me deu todo apoio, estrutura e acreditou em mim, na época não tenho vergonha de falar, ele pagou pelo meu tênis com a compensação de 8cm porque ia trabalhar de chinelo que eu mesmo adaptei, um ser humano incrível, de coração gigantesco.
Ricardo Ary dono do Loft casa de Jazz que o conheci quando ainda trabalhava no Cavalieri sempre expôs o quanto admirava o meu trabalho, educação, atendimento, me ajudou muito também me dando oportunidade nesse momento difícil e sem preconceito pelas minhas limitações mesmo estando de muletas.
E hoje agradeço por estar no Amecari, já recuperado, mas com limitações, muito grato pelo chef Frederico acreditar em mim, que me ajudou muito também e até hoje.
Então, sim, a indicação do Sabores da Cidade significou muito mesmo na minha vida. Quando contei para minha esposa sobre a indicação nos emocionamos muito juntos porque só ela sabe o sofrimento que foi durante esse 6 anos de luta e ela sempre me apoiou, minha maior incentivadora, sempre dizia que eu estaria entre os melhores. Obrigado, meu amor Daniele, essa indicação é mais sua que minha.
Quais as características de um bom drink?
Interessante que cada drink tem sua característica, sua personalidade única, mas que para ser quase perfeito depende muito de destilados de qualidade, insumos frescos tudo pensado escolhido a dedo pra que ele possa chegar no seu equilíbrio onde nosso clientes consigam apreciar com calma sentindo todos os sabores e aromas.

Você busca inovar na criação de drinks? Como?
Gosto de pesquisar muito, buscar referências dentro e fora do Brasil, apesar de não gostar muito de seguir tendências como surge todo ano das indústrias e etc, mas estou sempre de olho em outros profissionais da área com mais tempo de bagagem no mercado.
Gosto muito de seguir minhas intuições nas criações, estamos no nordeste, né, então sempre vou buscar experiências dessa cultura riquíssima. Só para ter uma ideia, essa semana iniciei no Amecari testes com vodca em infusão com “coentro”, que não pode faltar no prato do cearense e que eu amo sua potência de sabor e aroma.
Para quem deseja atuar nesse ramo, qual conselho você daria?
Vou ser bem sucinto e direto para quem deseja entrar nessa área, não romantizem o bar, é uma profissão, muitas das vezes, ingrata. Principalmente com nossas famílias, vai te tomar muito tempo, precisa estar em constante estudo, horas e horas de trabalho árduo, correria.
Infelizmente lugares insalubres que pode ter certeza que pode prejudicar sua saúde física e mental, ou seja, só entre se realmente gosta de trabalhar com público, esse ramo de A&B realmente tem que vir do coração.

Pitadas de Felipe Machado
O que não pode faltar na sua cozinha?
Isso vem muito da Vó, não pode faltar amor, cebola, alho e pimenta do reino.
Uma música para ouvir enquanto trabalha?
Geralmente nas casas a Playlist não depende da gente né, mas eu sou apaixonado pela música eletrônica, mas curto muito trabalhar ouvindo um bom Jazz e Blues.
Livro predileto? Não precisa ser de gastronomia.
A “Bíblia” ,mas não sou muito de ler livros (não me julguem haha) mas sou uma pessoa muito curiosa então sou muito de pesquisas, gosto de saber todos os tipos de assuntos.
Para você, quais os sabores da cidade de Fortaleza?
Cidade de Fortaleza é maravilhosa, eu me apaixonei por essa cidade. Eu amo culturas, né, por mim estaria mochilando pelo mundo, deve ser uma experiência incrível, mas gosto muito da culinária local nosso baião de dois, nosso frutos do mar, camarão, lagosta etc. Tudo fresco todos os dias se quisermos. Única coisa que n consigo comer ainda é panelada e buchada.
Serviço
Amecari
Redes sociais: @amecarirestaurante
Localização: R. Silva Paulet, 1100 – Aldeota
Funcionamento: Jantar: Qua-Sáb 19h-23h | Almoço: Qui-Sáb 12h-15h
Parabéns, te desejo todo sucesso do mundo ,vc vai brilhar muito meu sobrinho titia te ama.