Entrevista: Van Régia e a ‘cearensidade’ no prato

Em entrevista exclusiva, Van Régia conta detalhes de seu percurso na gastronomia e suas considerações sobre a cozinha cearense

Cearense cheia de amor pela terrinha, Van Régia é apaixonada pelo forró, pelos mercados e pelas praias da nossa cidade. “Minha relação com Fortaleza é de muito amor à terra e sua cultura, sua musicalidade e principalmente sua culinária. Me encanta ir aos mercados de artesanato, ouvir um belo forró, e comer das suas iguarias”, afirma. Trazendo influências da cozinha de família, o restaurante Culinária da Van faz sucesso há anos e hoje é um dos pontos imperdíveis do Benfica. A chef conta para a gente um pouco da sua trajetória, planos e considerações sobre a cozinha cearense. Confira a entrevista completa:

Chef Van Régia (Foto: Acervo Pessoal)

Hoje, a Culinária da Van já virou uma espécie de símbolo do Benfica. Ser importante para um bairro tão tradicional da cidade, de identidade universitária, é algo marcante. O que isso significa pra você?
O Benfica vive no meu coração desde a minha adolescência e hoje fazer parte dele é como a realização de um sonho. Sou muito grata ao bairro e as pessoas que aqui convivem e me acolheram tão bem.

Conta pra gente a proposta da Culinária da Van?
A Culinária da Van veio para ser um local onde as pessoas têm uma experiência gastronômica, musical e cultural. É colorido, alegre, cheio de vida assim como eu. Ela é o meu espelho.

Como foi sua trajetória na gastronomia, sua formação? Como chegou até aqui?
Na verdade, minha trajetória na gastronomia se deu em acompanhar minha vó enquanto cozinhava para a família. Os sabores e texturas vindo das mãos dela, enquanto ouvia Luiz Gonzaga me inspiraram desde criança. Cresci trabalhando para outras pessoas, e em um momento de dificuldade financeira resolvi vender comida na calçada de casa. Graças a Deus sempre fui muito apegada à boa comida, era caprichosa nos pratos, na apresentação, coloquei toda minha criatividade na comida e começou a pegar uma proporção enorme. As mesas não cabiam mais naquele local, abri um restaurante pequeno que logo virou point, fomos nos profissionalizando nos processos, contratando consultorias e deixamos de ser aventureiros para virar uma empresa de verdade. Hoje todos os nossos processos são mapeados e fazemos tudo como manda o figurino!

Como você visualiza a gastronomia em Fortaleza?
Sou suspeita pra falar pois sou completamente apaixonada por essa gastronomia, mas acredito que ainda podemos melhorar muito em relação à qualidade dos produtos, sabores, preparação, apresentação. Conheço muitos lugares com potencial para serem de referência, como os nossos mercados, por exemplo. Algumas barracas de praia que poderiam vender comidas maravilhosas e bem temperadas, mas esquecem que têm o ouro nas mãos. Investir em cursos de gastronomia para capacitação de quem faz comida cearense deveria ser a prioridade de todos.

Muita gente questiona premiações e rankings e seu restaurante está sempre figurando em listas de indicações. No Melhores da Cidade 2020, inclusive, você recebeu mais votos do público na categoria Chef do Ano/Experiência Gastronômica. De que forma as premiações e reconhecimentos impulsionam seu negócio?
A forma com que a gente recebe é altamente positiva. Sempre que tem premiação o movimento melhora, pois as pessoas querem estar perto da chef. O Sabores da Cidade é um site que tem bastante respaldo e respeito. É incrível. Depois da premiação, no outro dia a gente já vê a casa começando a movimentar. E não só na premiação, quando surge a indicação, a gente faz aquele movimento todo para pedir votos também, né? Então, já começa a melhorar o movimento. Que essas premiações sempre continuem e, que se Deus quiser, eu possa estar no meio delas, com meu trabalho sendo bem aceito. Gostaria de parabenizar o Sabores da Cidade por tanta coisa que fazem pela nossa gastronomia. Por estarem sempre indicando. Sei que não é fácil conseguir apoio para conseguir fazer o trabalho de vocês, organizar uma premiação. É sempre um grande prazer, de coração, estar no Sabores da Cidade. Seja na premiação ou nas matérias. Adoro estar aqui.

Quando não está trabalhando, quais restaurantes gosta de frequentar?
Geralmente, estou em barracas de praia, pois abrem na minha folga, que é na segunda-feira. São lugares tranquilos, onde não tenho contato com muitas pessoas para relaxar da correria do dia-a-dia. Eu gosto muito da Barraca do Pipoca e da Barraca do Seu Chico, por quem eu tenho muita admiração e frequento há muitos anos e vou até hoje com minha filhas. Na do Pipoca, eu vou muito para comer codorna e comer caranguejo, que lá é sem igual.

Tirando a que você faz, claro, qual sua comida preferida? E quem faz?
A comida da minha vó sempre será a minha preferida.

Existe alguma comida inesquecível pra você? Algum lugar específico onde você encontra essa comida? Pode ser restaurante ou um lugar afetivo seu.
Amo galinha caipira com pirão. Geralmente como em Caucaia ou Porto das Dunas.

Pitadas da Van

O que Van planeja realizar?
Espalhar meus saberes e sabores por todo o Brasil, levando a gastronomia cearense a outro patamar.

Para você, o que é comida boa?
Comida que toca o coração e mexe com a alma.

O que não pode faltar na sua cozinha?
Cuidado e atenção.

Qual sua receita de família?
Vatapá.

Uma música pra ouvir cozinhando?
Baião da Garoa – Luiz Gonzaga.

Livro predileto?
“Além da peixada e do baião: histórias da alimentação no Ceará”, da editora Senac Ceará.

Para você, qual o Sabor da Cidade?
Minha cidade tem sabor de peixe frito com baião de dois.

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