Experimento produz alimento híbrido 3D a partir de células animais e vegetais cultivadas em laboratório

Produção de carnes artificiais surge como forma de acesso à proteína animal sem emprego de rebanhos e abatedouros no processo de produção

Coxa de frango impressa usando biotintas de origem animal e vegetal | Crédito: Camila Yamashita

Um estudo combinou técnicas de impressão 3D com o cultivo de células animais e vegetais em laboratório para produzir uma coxa de frango. Junto com um donut, eles foram os formatos mais desafiadores produzidos pelo grupo de cientistas que, até então, tinham como principal teste a sintetização de fios de macarrão.

Os pesquisadores alinharam o experimento com os conceitos de agricultura celular, campo que estuda a produção de carne e outros produtos agrícolas a partir do cultivo de células em laboratório, permitindo a produção sem a criação e abate de animais.

O experimento envolveu pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Harvard, da Universidade de Tecnologia e Design de Singapura e da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp.

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A pesquisa foi realizada ao longo do ano de 2022 e os resultados foram publicados em julho na revista Nature Communications. A brasileira Camila Yamashita participou do projeto enquanto cursava seu período de doutorado sanduíche na Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.

“Imprimir um alimento utilizando como base um material comestível já é algo conhecido. O que nós queríamos era conseguir produzir o alimento do zero, a partir do cultivo celular”, diz Yamashita.

Biotintas

O projeto une várias iniciativas que vêm sendo estudadas de forma independente: a impressão 3D de alimentos; a produção de alimentos híbridos, que combinam ingredientes de origem animal e vegetal; e a criação de biotintas a partir do cultivo de células in vitro — ou seja, sem utilizar ingredientes prontos, como vegetais ou carnes.

A junção de todas essas frentes possibilita um novo campo dentro da gastronomia, no qual o alimento pode ser produzido de forma completamente customizável e, além disso, não dependerá de campos de cultivo ou criação.

A biotinta é um gel preparado em laboratório, a partir da combinação de células vivas, nutrientes, vitaminas e gelificantes, que podem ser dosados para atingir diferentes resultados: um gel com maior valor proteico, com mais vitamina B12 ou com menor teor de gorduras.

No estudo, o grupo desenvolveu duas biotintas que foram combinadas no momento da impressão: uma à base de células vegetais, com o uso das microalgas Chlamydomonas e Chlorella; e outra com células de músculo de frango.

Para chegar a esse resultado, outro objetivo do experimento foi conseguir cultivar as células de frango em laboratório, eliminando a necessidade de abate dos animais.

A impressão

Com a tinta em mãos, o passo seguinte envolveu a etapa de impressão, que é responsável por transformar o gel em um produto mais atrativo para a alimentação. Este passo se assemelha bastante à impressão 3D tradicional. O design do formato do alimento é feito a partir de um modelo 3D no computador. A seguir, as ampolas contendo as biotintas são posicionadas na impressora, que inicia o processo de impressão por meio de uma sequência de camadas alinhadas.

O principal teste realizado foi a impressão de fios de macarrão. Mas, com o sucesso das biotintas, o grupo também testou formatos mais desafiadores, incluindo uma coxa de frango e um donut. Yamashita destaca que o foco do estudo estava nos testes mecânicos, buscando avaliar se as biotintas conseguiam preservar a estrutura dos alimentos e se seria possível personalizar ou alterar a textura final. Os resultados foram considerados satisfatórios.

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