
Comer não é apenas um ato, é identidade e cultura. É o que aponta a tendência de valorização da gastronomia regional, cheia de personalidade, que vem crescendo nos últimos anos.
Segundo com uma pesquisa do Instituto Ipsos e DataFolha, em 2024, 83% dos entrevistados afirmam consumir pratos típicos de seus estados. A pesquisa foi encomendada pela 99Food, que ressaltou uma tendência clara nas escolhas gastronômicas, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Ainda segundo o levantamento, os respondentes revelaram que entre os últimos dez pedidos feitos, 50% deles escolheram pratos típicos brasileiros, com destaque para o churrasco, a feijoada e o cuscuz como os mais consumidos no Brasil.
E não para por aí. Dados do Booking, um site de e-commerce de viagens que permite realizar reservas, 69% dos brasileiros escolhem destinos com foco na experiência gastronômica proporcionada pela culinária local.
A motivação é forte também entre diferentes faixas etárias, com 71% dos Millennials valorizando a comida local como critério de decisão para suas viagens, seguidos por 68% da Geração X e Z.
Para Ivan Prado, sócio fundador do Siá Restaurante e chef corporativo no Bach Park, a cultura e a gastronomia são realmente inseparáveis. “Não existe gastronomia sem uma identidade cultural, sem a cultura de um lugar. A gastronomia traduz essa identidade e essa cultura de cada lugar”, diz.
Ele continua: “É engraçado porque quando a gente fala de alguns ingredientes específicos, isso já te remete a um país, a um lugar. E para entender o quanto está correlacionado a gastronomia com a sua identidade cultural, quando a gente fala de um prato típico, a gente traduz essa identidade da gastronomia desse lugar”.
Ivan vê como “uma tendência mundial a gente falar sobre o ingrediente regional, falar sobre a própria identidade, sobre a própria cultura, porque isso é uma forma de pertencimento”.

“Nunca vai existir não ter essa influência de forma clara e objetiva na nossa cozinha ou na cozinha de outros países, a regionalidade sempre vai estar, a comida regional vai ser eternamente contemporânea. Sempre vai ser algo clássico. E eu acho que cada vez mais as pessoas estão entendendo e buscando entender a cultura dessa identidade”, reflete.
É nítido como a comida regional vem ganhando força nos últimos anos, impulsionada pelo desejo crescente dos consumidores por autenticidade e identidade cultural, além da busca por pratos que resgatem raízes, sabores tradicionais e ingredientes locais.
O chef confeiteiro e professor Marcos Wandebaster fala sobre o futuro da gastronomia, mas ressalta que é preciso, “antes de tudo, voltar nosso olhar ao passado e enxergar as trajetórias dos povos que construíram o que conhecemos como gastronomia brasileira”.
O profissional também evidencia um ponto para ter atenção: “A exemplos práticos, ao pesquisarmos nas confeitarias de Fortaleza, podemos observar tranquilamente que a amêndoa e o pistache reinam em detrimento da castanha de caju. Nossos doces regionais como cajuzinho, doce de espécie e cocada não aparecem nos cardápios”, critica.

Nos seus trabalhos dentro da confeitaria, o chef dedica-se à valorização dos sabores locais. “Aproveito os insumos da época e mostro ao meu público como um bolo com recheio de cajá e castanha de caju é tão fabuloso quando um com recheio de morango e pistache”, destaca.
Turismo gastronômico em Fortaleza
Não há dúvidas de que a gastronomia é um atrativo forte para quem deseja conhecer os territórios. Na capital cearense, rica em sabores do litoral e ingredientes do sertão, o número de empresas ligadas ao turismo gastronômico aumentou 348% nos últimos dez anos.
Os dados são da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SDE) que apontam, ainda, um número de 25 mil empresas ligadas ao turismo e, dessas, 64% atuam na produção alimentícia, conforme dados de julho deste ano divulgados no portal G1 Ceará.