Mulheres representam mais da metade dos brasileiros que planejam empreender até 2026

As mulheres marcam presença no mundo dos negócios e representam 46,4% dos 14,6 milhões de Microempreendedores Individuais (MEIs) do Brasil, segundo dados do IBGE (2022). O levantamento mais recente da Global Entrepreneurship Monitor (GEM/Sebrae, 2023) indica que 54,6% dos brasileiros com intenção de empreender até 2026 são mulheres, sinalizando uma possível inversão no número de registros formais.

A tendência ganha destaque na semana em que se celebra o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, nesta quarta-feira, 19 de novembro, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014 para ampliar a visibilidade das mulheres no setor. 

Empreendedorismo feminino em Fortaleza

Uma receita de mãe produzida na cozinha de casa inspirou a criação da Empório Brownie, que nasceu em 2006. Mila Ary, fundadora da marca, uniu a gestão com a paixão por doces e a fórmula perfeita de Ana Luiza, sua mãe, para criar a marca, que já soma mais de 19 anos de mercado.

“Com 11 lojas em Fortaleza, (a Empório Brownie) se mantém presente na vida dos clientes em todos os momentos: na sobremesa de fim de semana, nos momentos de lazer com os amigos, na sonhada festa de casamento ou na forma de um belo e delicioso presente”, destaca Mila Ary.

Mila Ary

Giovanna Mondardo, paraense que se enraizou em Fortaleza, ousou investir, com autenticidade e criatividade, no mundo dos chocolates, dando origem a Moa. Com coragem, em meio a uma mudança de carreira, ela começou a planejar seu novo negócio ainda em 2019.

“Foi quando entrei no mundo do chocolate que realmente consegui explorar esse lado criativo de forma completa. Desenvolver a Moa do zero me permitiu criar tudo com a minha cara: desde o nome, a identidade visual, as embalagens, até as receitas – onde exploro meu amor por gastronomia e coloco todo meu repertório de sabores em ação. É um trabalho muito autoral e é onde realmente deixo minha criatividade fluir”, explica.

Giovanna Mondardo

As ruas também movimentam a economia local. Sucesso na orla de Fortaleza, Amanda Dantas passou a investir na venda de bolos para gerar renda. A jornada da vendedora, que hoje atrai filas no seu local de venda, nasceu da necessidade pessoal de ter um trabalho que a permitisse ficar perto de seus dois filhos, após ter engravidado do caçula.

Ela conta que no início “foi bem difícil”. “Eu ficava oferecendo de mesa em mesa, oferecia para as pessoas que estavam passando e para as que estavam sentadas comendo ou bebendo alguma coisa. Até eu conseguir vender o último pedaço”, detalha.

“Eu sempre gostei de cozinhar. O bolo não, foi algo em que com o tempo fui me especializando em recheio, em tudo. Tudo é na base do tempo. A gente começa, inicia, e depois a gente melhora em muitas coisas”, relembra.

Amanda Dantas

Perfis do empreendedorismo brasileiro

Em 2023, a Aliança Empreendedora, organização sem fins lucrativos voltada ao apoio de microempreendedores em vulnerabilidade econômica, lançou o relatório “Todos Podem Empreender”. Segundo o documento, o Brasil tem cerca de 25 milhões de microempreendedores e microempreendedoras em situação de informalidade, com ou sem CNPJ.

O número representa aproximadamente 26% da população ocupada. Desse total, 6 milhões possuem CNPJ e 10 milhões estão no Cadastro Único (CadÚnico). As mulheres correspondem a 34% deste grupo e 54% são pessoas negras. O levantamento destaca que esses perfis geralmente não são alcançados pelas políticas públicas tradicionais.

A informalidade, aponta a organização, é resultado direto das desigualdades de gênero e da falta de estrutura de apoio à mulher que empreende. Muitas recorrem ao trabalho autônomo como alternativa à ausência de vagas formais, mas enfrentam barreiras que dificultam a consolidação dos negócios. Para Lina Useche, cofundadora e head de relacionamento institucional da Aliança Empreendedora, compreender o contexto de vida dessas mulheres é essencial para que qualquer política de incentivo seja efetiva.

“Quando a gente olha para o tempo de dedicação aos seus empreendimentos, a gente tem um grande desafio. O próprio Sebrae mostrou que o tempo dedicado das mulheres é, em média, 18% menor que o dos homens”, afirma.

 Ela explica que essa diferença está diretamente ligada à chamada “economia do cuidado”. “As mulheres sustentam a economia do cuidado; cuidam da casa, dos filhos, muitas vezes dos pais idosos e ainda tentam gerar renda a partir de um empreendimento que muitas vezes é feito dentro de casa. Essa tripla jornada é extremamente desafiadora”, destaca.

Segundo Lina, a falta de redes de apoio é um dos principais gargalos para o avanço do empreendedorismo feminino. “A política pública precisa entender que essa é a realidade, temos um contingente imenso de mulheres que são a base das suas famílias. Sistema de creche, rede de apoio, políticas de cuidado. Tudo isso é fundamental para que elas possam empreender e gerar renda de forma sustentável”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Latest articles

Related articles