Entrevista: Israel Sousa, o churrasqueiro que abraçou as praças de Fortaleza

Israel de Sousa é cria da Cidade 2000, bairro de Fortaleza formalizado em 1970 como conjunto habitacional e hoje é um dos polos gastronômicos mais movimentados da cidade. Ele nasceu na década de 80 no próprio bairro, já morou em várias cidades, mas sempre volta para “a minha Fortaleza”. É ao lado do bairro que adora, no com o Cocó, que ele trabalha como chef e churrasqueiro do BBQ5, um trailer/bar, localizado em uma praça. Ele define a comida que faz como “- baixa gastronomia, comida democrática, mas pra quem gosta de comer bem”. Israel também é músico e pretende voltar para esse ramo, mas esse não é o único projeto além BBQ 5. Ele está preparando uma ideia com a pegada mais de boteco, com personalidade de várias culturas do país, com destaque para os ingredientes do Ceará. Olha só!

Foto: Divulgação

Israel, como você começou a cozinhar?

Minha segunda casa sempre foram as cozinhas de restaurantes ou buffets da minha família. Quando viajava, adorava os temperos diferentes dos parentes e restaurantes que visitava. E sempre que podia, mesmo ainda criança, já estava puxando uma massa para ajudar, fechando um salgado, cuidando da louça, temperando uma carne, mas o principal era estar ali perto, aprendendo todos os detalhes e os segredos.

Por que você escolheu o caminho das carnes?

Eu achava fantástico quando minha mãe transformava uma carne de segunda em um prato magnífico, sem falar que os churrascos de fim de ano da minha família demoravam uma semana, cada um trazia uma técnica. No final, partes viravam um cozidão, outras embutidos e a cabeça do boi um troféu na parede. Durante uma temporada que passei em São Paulo, aprendi tudo sobre hambúrguer com um amigo que tinha chegado a pouco dos EUA e guardei esse projeto na gaveta. Em 2016, virou realidade, fiz minha própria churrasqueira com meu pai e fui para rua vender burguer 100% artesanal. Foi assim que tudo começou.

Como foi a concepção do negócio BBQ5?

Após um período na rua, consegui montar minha primeira loja em 2018, consegui criar um conceito de hamburgueria, casa de lanches bem legal, mas vi que não era bem o que queria. Eu queria receber pessoas para passar horas no meu espaço, servir cortes bem particulares, ver o cliente batendo um papo com amigos ou com o churrasqueiro, petiscando, tomando uma boa cerveja ou vinho. Então, criei o BBQ5, definição de churrasco. Para mim, churrasco não é uma refeição, é um evento.

BBQ5 no Cocó e Lago Jacarey ficam em praças? Como foi essa escolha? Como é essa relação com espaços públicos?

É maravilhoso. É estar na rua, assando para quem chega ou simplesmente passa. Nós servimos o cara que desce da cobertura do prédio como também o motoboy que parou para comer alguma coisa rapidinho. A praça é para todo mundo.

Quais os profissionais de gastronomia que você admira e/ou te inspiram? Por quê?

Principal é a minha mãe, ela tem um capricho, tudo que ela entrega sempre tem um detalhe a mais, um cuidado. Estou estudando muito sobre carnes, mas vou citar três chefes que influenciaram demais nas minhas técnicas no BBQ5. Felipe Bronze (RJ), chef também apresentador, desenvolve todas as receitas na churrasqueira, inclusive confeitaria. O gênio Lennox Hastie, que é um chef em Sydney, Austrália, também é um cara que não usa fogão para nada. Rodrigo Oliveira do Mocotó (SP,) criador do Unique de banana e do Dadinho de tapioca, conseguiu ganhar os principais prêmios da gastronomia servindo fava, torresmo, panelada e cachaça.

Foto: Divulgação

Qual sua opinião sobre o atual cenário da gastronomia cearense?

Percebo que partes dos cearenses gostam de pedir sempre o que já sabem que gostam e estão acostumados. Carnes muito passadas e baião com farofa ainda é preferência de uma maioria. Mas, hoje já existem várias propostas no Ceará, principalmente em Fortaleza que oferecem incríveis experiências. Grandes chefs. Ao meu ver, o que falta para muita gente é considerar a refeição como momentos de contemplação, um pouco mais de respeito por quem está oferecendo, abrir um pouquinho mais a cabeça para conhecer novos sabores.

Como é ser chef do BBQ5? Explica um pouco do seu dia a dia nos dois estabelecimentos.

Não faço parte da operação fixa de nenhuma das casas, mas sempre estou assando, interagindo com os clientes. Boa parte já são amigos, tomamos uma cerveja, criando pratos ou drinks na hora.

Qual foi seu maior desafio como profissional da gastronomia?

O desafio diário e continua. Converso sempre com os outros chefs do BBQ5 para me ajudar a inovar nos pratos, atendimento, saber o que está rolando e pensar sempre em novidades.

Quando não está trabalhando, quais restaurantes gosta de frequentar? Você tem um prato cearense típico preferido?

Adoro restaurantes com a carta de petiscos bem sortida. Meu rolê de petiscos preferidos hoje é na Culinária da Van, Giz e Seu Conrado, com certeza.

O que você considera que é ruim na gastronomia e o que é bom?

O que não acho legal são os padrões, por exemplo, muita gente chega no BBQ5 e acha que por vender hambúrguer tem que ter maionese temperada ou porque é um quiosque tem que funcionar na madrugada ou porque é carne tem que ter baião. O pior é que alguns negócios acabam se rendendo a fazer mais do mesmo. Quero deixar os parabéns e meu ‘muuuito’ obrigado aos chefs que estão inovando, criando e arriscando.

Pitadas do chef

O que não pode faltar na sua cozinha?

Mostarda

Qual receita de família é marcante para você? De quem é?

Braço do boi com bacon e azeitona da minha mãe, servido com purê de batata com queijo.

Uma música para ouvir cozinhando?

Todo o repertório de Dominguinhos

Livro predileto? Não precisa ser de gastronomia.

Bíblia ou torah

Para você, quais os sabores da cidade de Fortaleza?

Panelada e Peixada

Um lugar em Fortaleza fora da cozinha?

Praia do Futuro

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