Ilka Salatielle: “Buscar o diferencial faz de mim quem eu sou, intensa e ousada”

Ilka Salatielle (Foto: Arquivo pessoal)

A paixão pela arte é a ponta de um fio que conecta Ilka Salatielle ao seu amor por vinhos. Após iniciar viagens para participar de festivais de folclore, ela conheceu um mundo embalado em dança, música, artesanato, gastronomia e vinhos. Este último, em especial, é parte importante de quem ela se tornou.

Vencedora das últimas duas edições do prêmio Melhores Sabores da Cidade, 2023 e 2024, a sommelière é destaque quando o assunto é harmonização de vinhos e desenvolver cartas que se encaixam perfeitamente com a proposta de cada restaurante.

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Ao Sabores da Cidade, Ilka Salatielle contou mais sobre sua trajetória profissional, como tudo começou e por onde passou, além de detalhar suas experiências ao longo da carreira. Ela compartilhou, ainda, curiosidades sobre si e o que não pode faltar na sua adega. Confira abaixo a entrevista completa.

Sabores da Cidade: Como entrou no mundo dos vinhos?

Ilka Salatiele: Desde criança sempre dancei e fui apaixonada pela arte. Em 2001 iniciei as viagens para a Região Sul do país, Santa Catarina (Florianópolis) para participar de Festivais Internacionais de Folclore que reunia várias nacionalidades e etnias. Os festivais reuniam dança, música, feira de artesanato, feira gastronômica e vinho. Primeiro a paixão pela gastronomia e logo em seguida a paixão pelo vinho. Foram os uruguaios que me incentivaram a harmonizar o vinho com suas comidas típicas. Sendo que antes não consumia bebida alcóolica e nem refrigerante.

Ou seja, fui da água ao vinho de verdade. Um angiologista também me ajudou em fazer a dieta com vinho para melhorar a circulação e nunca mais parei. Resolvi estudar primeiro para a saúde e depois me vi curiosa para aprender profissionalmente. Muita leitura, disposição e os e-commerces ajudaram muito para a litragem. E enveredei a curso de degustação de 80h on-line, curso de sommelier FIZAR, WSet 2, Juiza Internacional Qualificadora de Vinho IWTO.

Como foi se inserir, como mulher, nessa área de sommeliers tão ocupada por homens? Sentiu que os desafios foram maiores nesse sentido?

Eu sempre soube que competência não tem gênero. Estudo, viagem, literatura, litragem, conhecer e conversar com produtores e enólogos sempre foi o que me fez aprender. E nunca estou satisfeita com o conhecimento que adquiro. Viagens de estudo não patrocinadas, diga-se de passagem, economizando tudo que podia em busca de vivências e experiências me fortaleceu. O cliente entende que quando falo de uma região ou de um produtor, falo com seriedade.

Existem várias formas de indiferenças para com o sommelier em geral. A diferença econômica muitas vezes vai ao ralo se não estivermos preparados com discrição, oratória, abrangência em conhecimento cultural, econômico e financeiro. Se você é sommelier tem que saber… Embora apenas um curso não vai te dar tudo. É apenas o começo da história. E o mundo do vinho exige um investimento alto para validar a teoria. Quando os salários oferecidos ao mercado chega a ser uma ofensa para performace que somos cobrados.

Não basta só entender de vinho, é preciso estar aberto ao relacionamento de salão. É preciso frequentar outros lugares melhor do que o lugar que você trabalha e tudo isso tem um custo. Diria que na maioria das vezes fui parabenizada ou elogiada. Poucas vezes o público masculino de idade mais avançada e mais conservador tem dificuldade de aceitar uma opinião ou sugestão de alguém mais jovem e do sexo feminino. Posso dizer que os melhores serviços foram para grupos de homens que realmente eram conhecedores de vinhos e que a uva preferida era a elegante pinot noir.

Como foi o processo de se tornar referência no assunto vinhos em Fortaleza?

A perfomace sempre foi minha preocupação. Chegar do trabalho de madrugada e amanhecer estudando foi uma rotina viciante e que só depois de anos me deparei que não podia continuar com esse hábito. A cultura do vinho me faz feliz e sou feliz em poder apresentar às pessoas, tirar dúvidas, ajudar em roteiro de viagens.

Ilka na Região do Vinho Verde, em Amarante, em Portugal.

Para mim, a taça é o objeto que segura a verdade. Não adianta cantar a bola na taça e o vinho ser ruim. Minha primeira faculdade foi voltada para psicologia e depois a pós graduação em arte-educação e cultura popular o que muito me ajuda a fazer a leitura corporal do convidado. O corpo fala e é importante não perder esse termômetro de vista. A dinâmica e a hospitalidade completam o meu processo.

Para você, quais as principais características de um bom vinho?

A expressão e a tipicidade. Sem muitas máscaras.

Sabemos que passou por muitos países ao estudar sobre vinho. Quais experiências você destaca dessas empreitadas?

Assumir que somos tradutores dos trabalhos de produtores e isso é essencial. Aprender a receber críticas sobre suas escolhas, acompanhar as tendências em geral. Compreender que no salão não somos educadores do vinho, respeitamos suas escolhas sejam elas coesas ou não usando a discrição. Conhecer a fundo o estilo de produção, de vinificação e de envelhecimento. É fundamental para a expectativa criada sobre o vinho.

Quem é a Ilka quando não está como sommeliere?

A Ilka Salatielle é mãe, gosta de ouvir música, ir à missa, ler, cozinhar, tomar um bom vinho, bater papo com os amigos e planejar o roteiro de viagem.

Recentemente no Siá Restaurante, conta como tem sido essa nova fase e o que podemos esperar de novidades?

Em dezembro fui convidada para ser consultora e responsável pela curadoria da carta. E com um propósito de agregar à gastronomia do Chef Ivan Prado, logo mergulhei no seu menu para melhor compreender as possibilidades de harmonizações. Temos percepções comuns quanto à valorização dos insumos locais e a carta não podia ser diferente.

Penso que ter rótulos de pequenos produtores nacionais, rótulos premiados estilos de vinificações e expressões que harmonizem com conceito de criatividade é um ponto ímpar para a experiência do cliente.

Parte da carta é de domínio brasileiro e o nordeste não podia faltar. A percepção de descrição também mudou, mais contemporânea e em busca de ajudar o melhor entendimento com autonomia para o cliente. Ao todo são oito países entre velho e novo mundo que compõem a carta.

Você tem dominado o prêmio na categoria sommelière do Sabores da Cidade nas últimas edições. Como isso reflete no seu trabalho e o que significa essas conquistas para você?

É um marco na profissão ser indicada três vezes e obter sucesso nos dois últimos anos. É saber que faço parte de uma nova geração de sommeliers de Fortaleza que ainda somos poucos. Resultado de um trabalho coerente que a paixão me fez entregar com uma propósito de a cada dia procurar fazer melhor, errar menos, encantar mais. Respeitar as escolhas e o tempo do convidado, procurando ser assertiva e ver a satisfação no rosto do cliente. A responsabilidade aumenta e ao mesmo tempo a busca de inovar sem perder a essência.

Cidade de Porto, em Portugal.

Conta um pouco mais sobre os restaurantes por onde passou.

Passei por wine bar no início e depois foi paixão, razão e compromisso em assinar a história do Mangue Azul e consecutivamente na minha vida. Vim para fazer história e a inspiração sempre foi o serviço internacional, a delicadeza, a proposta de público que realmente fosse aquele lugar para viver uma experiência. A magia de não ter sido treinada e buscar incessantemente o diferencial faz de mim quem eu sou, intensa e ousada.

Para quem deseja trabalhar nesse ramo e está começando agora, qual conselho você daria?

Eu contaria uma história: o balé. Todos veem a leveza, a beleza e a elegância de uma bailarina. Ninguém imagina o quanto é duro sangrar nas sapatilhas, encarar horas de ensaios e repetições para estar pronta ao palco. Na vida real passará por muitas aprovações, as degustações, as confrarias, os cursos são entretenimentos. E entretenimento é tudo que vai ficar distante de você. Administrar o psicológico, o tempo e a pressão é a condição para essa atuação. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Pitadas de Ilka

O que não pode faltar na sua adega?
Riesling e Pinot Noir.

Uma música para ouvir enquanto aprecia um bom vinho?
Sou eclética. Assim como o estilo do vinho muda a música também depende do momento: Pop, Rock, Lounge.

Livro predileto? Não precisa ser de gastronomia.
Decifrar Pessoas – Como entender e prever o comportamento humano
Jo-Ellan Dimitrius – Mark Mazzarella

Para você, quais os sabores da cidade de Fortaleza?
Os sabores do mar: Caranguejo, Peixada, Polvo, Camarão.

Serviço

Siá restaurante
Redes sociais: @siarestaurante
Endereço: Av. Beira Mar, 2800 – 12º andar – Meireles
Funcionamento: Almoço terça-feira a domingo, das 12h às 15h30 | Jantar terça-feira às quintas, das 19h às 23h e sexta-feira a sábado de 19h à meia-noite | Sunset music no sábado, de 16h às 18h30 (Com música ao vivo)

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