Comida de mãe: o amor é o melhor tempero

Leitoras e leitores do saboresdacidade.com compartilham as receitas afetivas preparadas por suas mães

Nesse momento em que a pandemia do Covid-19 continua no Brasil, ainda precisamos manter os devidos cuidados para preservar quem amamos e respeitar a dor de tantas famílias que perderam mães e filhos. Chegamos a mais um Dia das Mães que será marcado por uma programação diferente sem perder o sabor da data. A comida é capaz de criar vínculos e memórias afetivas marcantes em nossa história. Algumas delas, talvez a maior parte, podem acontecer à mesa, nas refeições em família com receitas de avós e mães.

Em muitas casas, onde o domingo é dia de comer a comida da mãe, neste elas não cozinham. É assim por aqui e por aí? No entanto, falar de mãe sem mencionar uma receita ou alguma tradição familiar à mesa é uma tarefa difícil. Amor, carinho, cuidado e afago também são sentidos desde as nossas primeiras colheradas. Por isso, convidei leitoras e leitores do Sabores da Cidade para compartilhar memórias afetivas.

Ana Karoline de Oliveira Costa, professora, ao falar de Fátima Maria de Oliveira Costa, dona de casa, não deixa de mencionar os bolos acompanhados de um bom café. “Na infância, ela sempre testava receitas diferentes. Gosto de qualquer um, mas sempre me marcou um bolo com calda de chocolate que não leva leite condensado: era leite, chocolate em pó e manteiga. E fica mais saboroso que calda de brigadeiro”, conta Karoline. Entre tantas receitas, o caderninho com os preparos escritos à mão segue com seu propósito. Eu poderia transcrever a receita, mas a foto da página da receita me encantou tanto que compartilho com vocês aqui também.

José Maria Santiago, médico, encontra amor no assado de panela feito pela mãe Rosa Lúcia Ávila Santiago, dona de casa. “É uma receita bem simples, mas é a cara de casa de mãe. Quando acompanhada de arroz branco, feijão e paçoca fica mais do que perfeita. Sempre foi e sempre será meu prato preferido. Sempre que vou visitar minha mãe ela nem pergunta o que quero comer porque já sabe a resposta”, conta Santiago. Ele explica que o preparo é cortar a carne em cubos, deixar o molho reduzir para “engrossar o caldo” e acrescentar creme de leite ao final. 

Nada une mais as pessoas do que a comida, né? Sentar à mesa, conversar sobre como foi o dia, dividir problemas e encontrar soluções, rir e sonhar (principalmente com viagens) sempre fizeram parte dos momentos de refeições da família de Lilian Feijó, designer de interiores. A receita de suas melhores lembranças é o Peixe à delícia feito aos domingos de sua infância pela mãe, Eliz Deyre Saraiva Feijó Guimarães, professora de português. “O cheiro do peixe e da banana fritando se espalhava pela casa e já dava água na boca”, lembra Lilian. 

Ela conta ainda que a mãe trabalhava muito, mas sempre se fez muito presente na sua vida e dos irmãos. Como na semana ela não tinha tempo para cozinhar, Eliz sempre fazia o prato nos almoços de domingos. “Hoje, eu já casada, ela continua fazendo o peixe à delícia em datas especiais, que é quando nos reunimos à mesa e compartilhamos nossas vidas, sonhos, risos e esperanças”, diz Lilian.

Eliz e Lilian Feijó

O gastrólogo Luiz de França suspirou ao lembrar das Bolinhas “do Voza”,acompanhadas de um arroz soltinho e um feijãozinho bem gostoso. É um de seus pratos favoritos de sua mãe, Sônia Amaral, aposentada. “Quem fazia muito esse prato, que para nós é super afetivo, era minha avó, dona Corina. Na verdade, ela começou fazendo muito para meu avô, apelidado pela família dele carinhosamente de Voza, dando nome à receita de almôndegas de carne bovina”, diz Luiz, lembrando também do doce de queijo coalho. É cada memória deliciosa que a gente só pensa na satisfação de cada garfada.

Sônia Amaral e Luiz de França

E o que dizer do bobó de camarão da Vanda Sampaio, mãe da Glenda Sampaio. “É uma receita feita com muito capricho, ingredientes genuínos e sem ‘gambiarra’ (leia-se sem maisena e/ou farinha para engrossar). Um prato que sempre está à mesa quando a família está reunida com muita alegria e diversão”, conta Glenda.

Vanda conheceu Bobó de camarão no Rio de Janeiro, nos anos 60/70, época em que ela morou lá. Uma amiga da irmã fez, Vanda ficou encantada e logo perguntou como fazia. Hoje, ela faz a receita de cabeça. “Gostamos de fazer Bobó em momentos especiais. O creme de macaxeira (só macaxeira e mais nada para engrossar) é maravilhoso, especialmente quando está na sua melhor época de colheita”, destaca Glenda.

Glenda e Vanda Sampaio

Que tal uma sobremesa? A receita mais afetiva para Flora Bezerra é a torta de morango que sua mãe, Isaura Bezerra, prepara. “Ela é um pouco trabalhosa e minha mãe praticamente só faz se eu pedir. A receita veio da minha tia e ela é toda feita em casa, sem ingredientes prontos. Minha mãe e minha tia cozinham muito bem, a comida é algo que une minha família”, conta Flora, lembrando que Isaura vai anotando as receitas mas sempre faz com o jeito dela, mudando algo.

Essa beleza de torta tem uma massa feita só com manteiga, farinha e açúcar. O recheio é um creme de leite condensado, ovo e leite. A cobertura é com morangos frescos e gelatina de morango. “Essa parte da gelatina que dá um trabalho e só minha mãe acerta bem direitinho. Quando ela faz essa torta é sempre um dia especial e eu acabo ajudando então acaba sendo um tempo que a gente passa juntas, só a gente”, destaca Flora, que também seguiu os passos da mãe na profissão. As duas são professoras.

Eu não poderia terminar esse texto sem mencionar os melhores sabores e carinhos que encontro na cozinha da minha mãe, Celina Paiva. Eu sempre me impressiono com a simplicidade e riqueza das comidas feitas pela minha mãe. E mesmo ela me falando algumas receitas ou eu de olho ali em como faz, confesso que me falta coragem de reproduzir alguma delas. Talvez pela frustração anunciada de não conseguir atingir aquele sabor esperado. Ou mesmo pela satisfação e prazer que tenho mesmo de comer quando feito por ela. Alguém explica?

A peixada mais rápida e mais gostosa. O creme de galinha não tem igual. Nenhuma tia de pratinho faz creme de galinha como o da minha mãe. A rabada com pirão e legumes, jerimum, maxixe, quiabo, batata e cenoura, cada um no seu ponto correto de cocção. Depois que entrei nesse universo da gastronomia e vi receitas de rabada com vinho no preparo – como em outros cozidos clássicos – eu pensei: a da minha mãe é muito melhor. Desculpa aí, escola clássica! 

Como na casa Lilian Feijó, por aqui, peixe à delícia também é comida de celebração. O peixe e a banana fritos, cobertos por molho branco e purê de batata são pura memória afetiva de aniversários ou mesmo daqueles dias: “mãe, que vontade de comer o seu peixe à delícia”. Aliás, neste domingo vai ter peixe à delícia sim. Mas, minha mãe não vai mexer em nenhuma colher. Meu irmão, Kayron Paiva, disse que vai preparar o prato. Vamos ver!

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