Duas paixões tomaram conta de Carolina Batista: a Psicologia e a cozinha de doces. Ele seguiu na primeira opção, mas de alguma forma a doceria sempre se fazia presente. Foi com o dinheiro de vendas de tortas que ela pagou a faculdade e, mais tarde, se tornou especialista em Saúde Mental.
Seguindo ainda com a cozinha doce, veio a primeira loja e já não dava mais para se dividir. E entre um amor e outro, ela escolheu a doceria. Dessa trajetória nasceu a Tortelê, da qual Carolina é sócia-proprietária. De uma família “prendada” nos doces, como ela diz, as receitas da avó paterna e de sua mãe ajudaram a construir esse afeto e técnica para seguir no ramo.
Desde pequena os doces já participavam de momentos especiais, como quando preparava, ao brincar com suas bonecas, brigadeiros para os aniversários delas. Sua mãe já produzia tortas doces, mas parou para cuidar de outro negócio. Foi nesse momento que Carolina assumiu a produção e passou a custear os estudos.
Hoje, a Tortelê emprega 70 colaboradores e, em meio a conquistas e desafios, Carolina conta ao Sabores da Cidade detalhes dessa trajetória, como tudo começou, os percalços no meio do caminho, a exemplo da pandemia, além de comentar sobre a experiência de gerir um negócio de sucesso na capital cearense.

Sabores da Cidade: Carolina, como a confeitaria entrou na sua vida? Sempre esteve nos planos?
Carolina Batista: Quando eu era criança, já fazia brigadeiro para os aniversários das minhas bonecas. Cresci numa família que era boa de cozinha, e prendada nos doces. Tanto minha avó paterna, como minha mãe, faziam receitas memoráveis.
Meus planos eram com a psicologia. Porém, quando entrei na faculdade, era a época que minha mãe tinha acabado de abrir a barraca Terra do Sol. Ela fazia de tudo um pouco para sustentar os três filhos e umas das coisas eram as tortas doces. Ela ia parar de fazer, e pediu que eu continuasse fazendo as tortas doces que ela fazia antes para vender.
Assim, paguei minha faculdade com o dinheiro das tortas. Depois, fui me especializar em saúde mental em São Paulo e também fiz torta lá para ter uma renda extra, pois só a bolsa de estudos não dava para me manter.
Quando voltei, continuei fazendo as tortas por encomenda, mesmo atuando como psicóloga. Até que montei minha primeira loja e não tinha mais como me dividir entre as duas paixões, a psicologia e a cozinha de doces.
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Como surgiu a Tortelê?
Já fazia tortas por encomenda há muitos anos. Atendia cinco restaurantes conhecidos na época também. Como meu irmão tinha um ponto de produção de derivados de milho, tirei a produção de tortas da cozinha da minha casa e fui ocupar um espaço nesse ponto do meu irmão. Como minha clientela era grande, e continuava crescendo, eu projetei a primeira loja, que é a Tortelê Aldeota, em sociedade com meu irmão e um primo que entrou como investidor.

Quais os maiores desafios nessa trajetória empreendedora?
Nosso ramo precisa sempre estar inovando. Isso exige uma energia extra. Além das datas especiais, ainda somos a pioneira e única confeitaria de Fortaleza a fazer um festival de morango, festival de milfolhas, festival de pistache, festival de cheesecake, e festival de verão. A criatividade é exigida ao máximo nesses períodos.
Além dos desafios internos de manutenção da qualidade, treinamento de equipe, e o equilíbrio do fluxo de caixa, tivemos a pandemia, período traumático que nos fez passar quatro anos da nossa vida trabalhando só para pagar empréstimos.
Os desafios externos são tão grandes quanto os internos, pois a inflação corrói nossa margem de lucro, e não conseguimos repassar isso para os preços. Além disso, falta mão-de-obra que tenha o ensino médio bem feito, e a insegurança da nossa cidade exige custos extras da empresa.
Nosso maior desafio no momento é enxugar os processos de produção a fim de dependermos de menos de mão-de-obra, mas continuar artesanais. Estamos demorando até três meses para conseguir selecionar pessoas para uma vaga.

Como lida com todas as responsabilidades de ser uma gestora de um negócio de sucesso?
Nem sei. Ainda tenho três filhos, uma de 15, um de 13 e um de 5 anos. Minha rotina semanal é muito ocupada. Mas, conto com uma equipe grande, e a empresa tem lideranças em todos os setores importantes. Isso ajuda muito. Muito do meu papel na empresa é treinar e alinhar a rotina desses líderes.
Também, nos cercamos de assessorias financeira e jurídica para acompanhar o dia a dia, e continuar crescendo de forma sustentável.
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Como é gerir uma grande equipe? Quantos funcionários a empresa emprega?
Atualmente, temos 70 pessoas trabalhando. Como cada setor tem um líder, já não preciso lidar com todos os probleminhas do dia-a-dia. Além disso, temos um setor de gestão de pessoas e financeiro que são muito bem estruturados, e tomam quase todas as decisões que precisam sem precisar me consultar.
Mas, o desafio hoje é conseguir contratar pessoas. Mas, para minha “sorte”, conto com muitas pessoas maravilhosas no meu dia a dia.
A gestão de grandes equipes exige o trabalho de muitos líderes. Ano passado fizemos um programa de desenvolvimento de líderes, e retomaremos no segundo semestre desse ano.
Também, fazemos ainda no segundo trimestre, um treinamento para equipe de atendimento e vendas.
Quais os desafios de manter o bom funcionamento?
Qualquer negócio de alimentação vive esse mesmo desafio. São muitas frentes: arquitetura da loja, atendimento, conforto do cliente, qualidade dos produtos, correção de erros, inovação, datas comemorativas, gestão de pessoas, gestão financeira, compras, marketing. Tem que estar cuidando de tudo isso. Não que eu tenha dado conta, mas continuo tentando.
Mas, escolhendo um tema, o maior desafio está na frente de loja. É tudo sobre pessoas: clientes e atendentes. Esse é o ponto que estamos buscando evolução, pois é o setor de maior rotatividade, e parte do padrão do que servimos é garantido pela equipe de frente de loja.

Alguma novidade chegando na Tortelê que possa nos adiantar?
Por enquanto, estamos em obras estruturando nossa nova área de produção, que vai garantir mais conforto para quem trabalha, e mais qualidade para os clientes.
Um conselho para quem está começando nessa jornada de empreendedorismo e deseja abrir uma negócio no ramo da confeitaria?
Só saber fazer o produto não é mais suficiente. Empresas de alimentação (restaurantes, confeitarias, etc), são hoje empresas de tecnologia que entregam comida para o cliente.
É preciso lidar com “N” aplicativos, de delivery, de roteirização de entregas, de vendas na loja, sistema de produção, redes sociais, etc. Isso exige conhecimento extra e dedicação.
Meu conselho é: comece pequeno, teste seus produtos vendendo no bairro e por delivery, sem ter a estrutura formal de uma loja com todos os custos fixos que isso agrega.
Quem é a Carolina quando não está como chef e proprietária? O que gosta de fazer no tempo livre?
Sou dona de casa no tempo livre, vou à praia com meus filhos, tento administrar a vida dos três com as tarefas corriqueiras e lazer. Gosto de estar em família, de ler e também viajar. Gostaria de ter mais momentos assim.
Serviço
Tortelê (@torteledoceria)
Loja Aldeota
Endereço: Rua Vicente Leite, 1422
Funcionamento: Segunda a sábado: 10h às 19h. Domingos e feriados 11h30 às 18h30.
Loja Sul (Água Fria)
Endereço: Rua República da Armênia, 1170
Funcionamento: Segunda a Domingo: 11h30 às 19h30
Loja Meireles
Endereço: Rua Costa Barros 2000 loja 1, esquina com Barão de Studart
Funcionamento: Segunda a Domingo: 11h30 às 20h
Riomar Fortaleza
Endereço: Rua Desembargador Lauro Nogueira 1500, Piso L2 2052 – Papicu
Funcionamento: Segunda a sábado : 10h às 22h | Domingo: 13h às 21h
Boa tarde abençoada pra você ❤️ O chá 🫖 da tarde é na loja do Meireles as terças feiras?