Maria Lindomar Nepomuceno, ou Linda. Dona de um dos pratinhos mais reconhecidos da capital cearense, a mãe de dois filhos que veio do Interior e se tornou uma empreendedora de sucesso, bem no bairro Cidade 2000, onde o Pratinho da Linda faz história.

Muitos foram os percalços na vida de Linda. Mãe de dois filhos, viu o seu negócio para durante a pandemia de Covid-19 e precisou lidar com muitas críticas quando lutou por seu espaço como permissionária para vender na praça onde atua, além de ter quase perdido o seu carrinho para o fogo.
Seu tempero sobrevive ao tempo. Há mais de uma década, a empreendedora conquista clientes e se mantém como uma das guardiãs da cultura alimentar cearense, tão viva no pratinho, presente em tantos ponto de Fortaleza.
Seu reconhecimento é tamanho, que a vendedora já conquistou prêmios, como o de “Melhor Pratinho” de Fortaleza na edição 2024 do Melhores Sabores da Cidade. Por meio das vendas, ela conquistou a casa própria e seu espaço na gastronomia cearense.
Ao Sabores da Cidade ela detalha seu percurso, desafios e mais sobre o que gosta de fazer. Confira a entrevista completa abaixo.
LEIA MAIS | World Wine: 3 vinhos da América do Sul para aproveitar em Fortaleza
Sabores da Cidade: Linda, como surgiu a venda de pratinho na sua vida?
Maria Lindomar: A história da venda do pratinho, ela é bem imensa, sabe, porque ela surgiu do nada, porque antes eu vendia pratinho, só que não eram os meus pratinhos. Foi em meio a uma reunião na Regional que eu ergui o braço e pedi para ser colocada como uma das permissionárias, que na época, na reunião foi citado que só podiam 20 permissionários e que tinha somente uma vaga. Então, o meu nome foi escrito, preenchido a vaga como uma dos 20 permissionários.
Quais as dificuldades que você enfrentou nesse meio das vendas?
Eu acho que não foi a maior dificuldade, correr atrás para botar o meu projeto em prática (…). Quando eu botei o pratinho, o primeiro dia de pratinho foi uma coisa louca. O carro pegou fogo. E teve um cliente que deu extintor para apagar o fogo. Mesmo com tudo isso, eu não acho que isso foi a maior dificuldade.
Tudo que eu fiz, eu dei entrada no carrinho do pratinho com a ajuda do pai dos meus filhos. Eu parcelei o carrinho quatro vezes no cartão de uma amiga. Eu comprei tudo que eu tenho. Hoje eu mudei outras coisas e tudo, mas tudo que eu tinha comprado para o pratinho da Linda foi com o cartão de uma amiga minha chamada Tânia. E foi ela, por ela também, que hoje o pratinho da Linda existe. Porque sem a ajuda dela, eu não teria como botar em prática o meu projeto, que era seguir em frente.
LEIA MAIS | Vignoli inaugura cardápio executivo na unidade Silva Jatahy
Mas a rejeição das pessoas, as coisas ruins que disseram comigo, que eu também tive um problema no canto onde ficar, porque era um canto de uma pessoa bem antiga, que trabalhava na loteria, que eu fui olhar, falei com ela, ela disse que tinha problemas. O problema maior seria com o pessoal que estava ocupando a vaga, e na época eles estavam de férias. E elas, todos os dias, durante 30 dias, eu tinha aquela pressão psicológica das pessoas passarem e dizer assim, “só quero ver quando o argentino voltar, só quero ver quando o argentino voltar”.

Então assim, eu trabalhei um mês em total pressão, e teve gente que deixou de falar comigo, teve gente que dizia que o meu negócio não passava de um mês. Então eu acho que a maior dificuldade que eu tive foi de lidar com tudo isso, mas um dia eu cheguei em casa e botei o meu joelho no chão e falei, “Deus, se tiver que ser, que seja, se não, faça com que eu pare agora”.
E sempre, desde o início, os primeiros dias, era o meu tempero. Então isso fez com que eu chegasse até aqui. Eu acho que a minha dedicação foi muito grande, sabe? Eu sempre procurei fazer o melhor possível, da melhor forma possível, ter cuidados necessários, procurei sempre manter tudo bem limpinho e eu não peguei cliente de ninguém, eu simplesmente conquistei os meus.
Então para mim a maior dificuldade foi isso, foi ser julgada pelo fato de querer prosperar. Ninguém me via como, “ah, ela tem dois filhos para criar, ela é uma mulher batalhadora”. Ninguém parou hora nenhuma para pensar isso de mim. “Ah, ela mora só ela e os dois filhos”. Ninguém nunca me viu com esses olhos.
Como foi manter o negócio dos pratinhos durante a pandemia?
Na verdade, na pandemia eu parei, aí eu, na primeira etapa da pandemia eu parei. Na segunda etapa da pandemia, que reabriu e fechou de novo, eu tive a ideia de botar no iFood, meio que não funcionou.
As pessoas, eu acho que devido à dificuldade de dinheiro, porque parou total, elas preferiam pegar na minha casa. Eu fiz entrega, meu filho fazia as entregas, eu fazia e meu filho fazia as entregas, e eu parei pelo simples fato de medo.

Medo de, não que as pessoas pediam, compravam, mas teve um incidente que aconteceu com o filho de uma cliente, que ele foi assassinado e eu, meu filho, ele fazia entrega em todos os lugares. No Vicente Pizón, nas comunidades aos arredores.
E como eu achei muito violento o que estava acontecendo, eu não quis prosseguir. Ele me questionou, mas eu não quis prosseguir. Eu parei com medo da violência. E em seguida eu peguei Covid, foi um momento muito difícil. Fiquei bem ruim durante a pandemia, mas meu filho tem um negócio que se manteve aberto e nós recebíamos o auxílio e deu para se manter com o espaço do meu filho e o auxílio.
A única coisa que eu fiz foi entregar a casa, com medo de que a gente chegasse ao ponto de não ter o dinheiro para pagar. Esse eu tive um medo muito grande. Eu tive a ideia de morar no apartamento do meu filho e entregar a casa e pegar o calção e alugar uma casa quando voltasse a funcionar, quando parasse o comércio fechar.
Eu tive essa ideia e meu filho ficou com medo. Ele disse, “mas mãe, se voltar no próximo mês…”, eu falei, “não, se voltar no próximo mês, a gente aluga outra casa e fica”. Porque a gente tem que pagar o plano de saúde, a gente tem que comer, tem que pagar as contas. E se for manter nesse aluguel vai ser mais difícil. Aí foi, entregamos a casa que morávamos. Foi assim que quando voltou, eu não voltei junto com todo mundo, porque quando eu voltei, quando eu fiquei boa da Covid, eu fui para o Interior e lá fiquei por 21 dias.
Foi quando voltou em maio, comércio abriu, tudo abriu e eu tive que procurar algum canto para botar a minha cozinha. E assim foi.
Quais as maiores conquistas que você conseguiu por meio da venda dos pratinhos?
A maior conquista foi o reconhecimento das pessoas. Ter os clientes que eu tenho, sabe, que gostam de mim. Que pena que eu não possa sentar sempre à mesa para conversar, como eles gostam, eles gostam de me ouvir.
Eles gostam muito de me ouvir, tem clientes que falam para senta aqui, vamos conversar e ficam fazendo perguntas. Mas, infelizmente, eu não posso dar essa atenção para eles. E a maior conquista mesmo foi quando eu comprei o meu apartamento com a venda dos pratinhos, porque eu sou uma menina que veio do Interior. Eu jamais na minha vida eu me imaginei sendo empreendedora. Eu jamais imaginei ter uma CNH. Eu jamais imaginei ganhar um prêmio de melhor pratinho da capital.

Eu não me via nesse, posso dizer até assim, ser audaciosa e dizer nesse patamar. E é isso. E a conquista maior é poder dizer vou fazer 14 anos de pratinhos da Linda. É ter o reconhecimento das pessoas. Fora a conquista pessoal. Eu me sinto como eu me sinto em saber que o meu pratinho é reconhecido na cidade e ser premiado.
Para quem ainda não conhece, como você descreve o seu pratinho?
Quem não conhece, que busque informação, porque pratinho é vida. Pratinho é tudo. Pratinho é uma comida boa, gostosa. É uma comida que faz com que você cresça, que você se sinta feliz. Pratinho é tudo. Em resumo, pratinho é tudo.
O que o pratinho, tão tradicional na nossa cultura alimentar, representa para você?
Eu acho que a cultura alimentar representa muita coisa boa. Uma tradição da nossa cultura, representa o nosso estado, eu acho, a cultura do nosso estado. Uma cultura bem nordestina.
Quem é a Linda quando não está trabalhando? O que gosta de fazer e como passa o seu tempo?
Eu sou uma mulher que se sente cansada, mas ao mesmo tempo feliz. Eu gosto de fazer passeios na praia, gosto de ver o mar. Eu gosto muito de ir ao shopping e, quando posso, de gastar um pouco. Na verdade, às vezes, eu até ultrapasso esse pouco.
Quando eu podia, também, era o meu melhor momento. Era sentar no barzinho ali próximo à praça e tomar cerveja até chegar a hora de ir para casa, de descansar. E, assim, resumir a minha folga. Infelizmente, hoje eu não posso mais me dar esse luxo de poder sentar. Posso sentar, sim, no barzinho com pessoas, com meu namorado, mas não posso me dar o prazer de tomar uma cerveja ou tomar um vinho por conta de problemas de saúde. Mas eu sou feliz por tudo. Grata.
Saiba mais
Instagram: @pratinhosdalinda
Localização: Avenida Central Leste, Cidade 2000, Fortaleza
Funcionamento: Todos os dias, a partir das 18h30, exceto quartas-feiras
