Telma Carvalho e a ONG Pão do Povo da Rua (SP): a trajetória da cearense marcada pela gastronomia social

Telma Carvalho em uma das turmas em que foi professora na ONG Pão do Povo da Rua

Formada em gastronomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Telma Carvalho tem uma extensa trajetória voltada para o serviço ao outro e uma vasta atuação em espaços que têm a gastronomia social como protagonista.

Ela é professora e passou pela Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco (EGSIDB), no Ceará, além de ter iniciado, ainda na universidade, os trabalhos voltados para essa área, a partir do projeto Gastronomia Social UFC.

De lá para cá, uma de suas principais ações foi o voluntariado na ONG Pão do Povo da Rua. A instituição foi criada pelo professor Ricardo Frugoli, reconhecido em 2024 com o selo “Herói da Comida”, um título dado por Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) a profissionais que usam a gastronomia para transformar vidas.

LEIA MAIS | Quaresma: três restaurantes para comer peixe

Quando os caminhos certos se encontram

Os caminhos de Telma e do professor Ricardo se cruzaram em 2018, quando ele fez uma palestra na UFC enquanto ela ainda era estudante. “Eu fiquei encantada assim pela palestra dele. Estava falando sobre o Banquete Amazônico, sobre a festa do Círio, o almoço do Círio, que era a tese mestrado dele”, relembra Telma.

Telma Carvalho, no centro vestida de preto, junto de seus alunos na ONG Pão do Povo da Rua

“E nesse mesmo dia ele disse que estava pensando em fazer um projeto de acolhimento aos romeiros que vinham a pé de Castanhal até Belém, e às vezes não tinha nem o que comer nem onde dormir. E aí eu disse, por brincadeira, ‘se o senhor for e quiser me levar, eu vou lhe ajudar. Eu só quero mesmo uma passagem e a hospedagem’. E aí ele disse ‘vai mesmo?’, eu digo ‘vou na hora’, isso foi em junho, se não me engano, de 2018, quando foi em outubro eu já estava voando para o Pará”, detalha a professora.

Nesse primeiro momento, foram cerca de 10 dias preparando o “maniçobão” para os romeiros, que atendeu umas duas mil pessoas. Esse foi o início de um projeto transformador tanto para ela quanto para os demais envolvidos na aventura. “Nesse primeiro ano sem nada, assim, não tinha nada, panela emprestada, tábua emprestada, com faca emprestada, com pouquíssimos recursos, só eu e o Tiago, um amigo”, conta Telma, quando o Pão do Povo da Rua ainda nem existia oficialmente.

Ela continua: “No ano seguinte a gente foi novamente, fizemos um “maniçobão” de novo, só que dessa vez a gente serviu mais de 6 mil refeições, e não foi mais em quentinha, em material que poluía a cidade. A gente já serviu uma cumbuquinha feita pelos Marajuara, as cumbuquinhas de barro, de cerâmica, coisa assim. E aí foi maravilhoso, 2019, teve repercussão dentro do Pará, na festa toda, saímos nos jornais, e foi uma coisa linda”.

Pandemia

O projeto passou por uma interrupção em 2020, quando a pandemia de Covid-19 assolou o mundo. Em 2021, mesmo com as restrições, o professor Ricardo não conseguiu olhar o sofrimento que se espalhava na rua entre as pessoas em situação vulnerável e logo passou a produzir na própria cozinha, já em São Paulo, quentinhas para serem distribuídas.

Professor Rucardo Frugoli (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Os trabalhos não pararam e foram se fortalecendo. Em 2025, a iniciativa completa cinco anos, atendendo pessoas em situação de rua, além de outros casos em que estão em condição de vulnerabilidade social, por meio da gastronomia.

Onde a Telma entra nessa história

Além de ter sido pioneira no voluntariado desse projeto, Telma repassa seus conhecimentos, como uma boa cozinheira de mão cheia, para pessoas que são atendidas na organização.

“A minha participação é essa, ser voluntária, doar a minha força do meu trabalho, que é a única coisa que eu tenho para doar, meus conhecimentos, que eu também posso doar, compartilhar com o pessoal de lá”, conta Telma.

“E me sinto muito honrada, porque esse projeto é verdadeiro, é transformador, é a gastronomia sendo usada de forma transformadora, uma ferramenta de transformação de vidas. E é uma coisa que eu não quero deixar nunca de fazer, de servir o próximo, de ajudar, de usar meu conhecimento para ajudar o próximo. Eu acho que meu maior pagamento é ver um pouco o que eu posso ofertar, servir para ajudar outras pessoas. É ver o bolinho, o bolo da Dona Telma lá sendo vendido em São Paulo”, complementa.

Segundo Telma, ela vai anualmente à organização, quando chegam as férias do trabalho. Metade dos seus dias de descanso são para fazer a diferença no mundo de cada uma das pessoas atendidas com suas formações.

Sua atuação é destaque, tanto que o reconhecimento veio por meio do batismo de um bolo, de sabor capim-santo, com o seu nome. Ele é uma das variações entre os Bolos das Donas, o Bolo da Dona Telma, que até mesmo o prefeito da cidade, Ricardo Nunes, é apaixonado, segundo ela. Esses produtos foram pensados para dar sustentabilidade financeira para a ONG, para que não seja totalmente dependente de doações. Confira a receita do bolo de capim-santo abaixo.

Bolo da Dona Telma, de capim-santo

Receita Bolo de Capim-santo

Ingredientes
  • 300g de ovos 
  • 500g de açúcar
  • 300g de margarina
  • 100 ml de leite
  • 1 maço de capim-santo
  • 500g de farinha de trigo
  • 23g de fermento químico
Modo de preparo
  1. Processar junto com o leite um maço de capim-santo, coar espremendo bem o suco;
  2. Bater os ovos e o açúcar até triplicar de volume;
  3. Acrescentar a margarina e bater até ficar homogênea;
  4. Retirar da batedeira, acrescentar aos poucos a farinha de trigo e o fermento mexendo até incorporar na mistura. Alternar com o leite;
  5. Colocar em forma untada e polvilhada;
  6. Assar em forno pré-aquecido a 180º por aproximadamente 30 minutos ou até dourar.

Saiba mais

ONG Pão do Povo da Rua
Redes sociais: @paodopovodarua

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Latest articles

Related articles