Chef Ivan Prado: “Gastronomia é a minha forma de existir, é a minha relação com o mundo”

Foto: Divulgação

“Uma forma de olhar o mundo”, muito além das técnicas, é como o chef Ivan Prado pratica, à sua maneira, a gastronomia. Uma trajetória na cozinha que já soma mais de 20 anos, o profissional acumula reconhecimentos e experiências compartilhadas com grandes nomes da culinária brasileira.

Mas a sua base vem de muito antes. Ele encontrou inspiração nas mulheres da sua família: mãe, avós, tias e madrinhas o ensinaram os saberes que hoje ele compartilha por meio de suas criações. A mesa sempre foi um elo de conexão com a sua família.

O chef passeou pelas regiões brasileiras servindo sua culinária, temperada com técnica, mas sobretudo com a bagagem acumulada de todos os profissionais que o ensinaram. Em 2023, ele foi eleito o “Melhor Chef” de Fortaleza no prêmio Melhores Sabores da Cidade.

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Agora no comandando toda a parte gastronômica do Beach Park, Ivan também é sócio-fundador do restaurante Siá, uma cozinha autoral e autêntica, baseada nos seus valores. Ao Sabores da Cidade, o profissional conta detalhes da sua trajetória de vida, além de conquistas, sonhos, inspirações e quem ele é fora da cozinha.

Sabores da Cidade: Afinal, Ivan, como a gastronomia entrou na sua vida? Sempre foi a carreira dos seus sonhos? É algo de família?

Ivan Prado: A gastronomia sempre foi para mim uma forma de olhar o mundo, e uma forma de me conectar com o mundo. Eu sempre gostei muito de comer, então sempre me interessei por comida, por sobremesa, por doce, por salgado.

Eu era uma criança muito comilona. Até tem uma brincadeira interna lá em casa, que no colégio, quando eu era pequeno, eu não podia ir no dia que tinha festinha dos amigos, porque senão eu comia até passar mal. Então eu tinha muito essa relação de comer, de ser glutão, gostar de comer.

E a minha família sempre foi interligada com comida. Minhas avós e bisavós sempre cozinhavam muito bem, e a mesa sempre foi um elo de conexão entre a família. Eu brincava que lá em casa não tinha sofá, na casa dos meus familiares não tinha sofá, tinha mesa porque a gente sentava para tomar café da manhã e aí continuava na mesa conversando, aí já emendava almoço e continuava na mesa conversando, tomava o café da tarde, continuava na mesa conversando, jantava, continuava na mesa conversando e lanchava antes da janta um docinho alguma coisa e se levantava para dormir.

Então a gente acordava na mesa ia para a mesa e só se levantava para dormir então a comida ela sempre teve interligado né dentro da minha vida, mas nunca foi um sonho, nunca foi algo que eu pensava profissionalmente em exercer, mas, sim, algo que Deus tinha colocado através da mesa, através da minha família, e o ato de comer foi a minha primeira inspiração como como chefe, como cozinheiro.

chef Ivan Prado

Dos aprendizados que você conquistou na sua vasta experiência, o que leva para a sua cozinha?

Eu brinco muito que gastronomia, para mim, é a minha forma de existir, é a minha relação com o mundo, é a minha relação como pessoa, de me expressar como ser humano, através da comida, do dom que Deus me deu.

Então, todo tipo de experiência que eu vivo, de forma direta ou indireta na cozinha, eu aplico. Por exemplo, na gestão, liderar pessoas, compreender processos. Entender que tudo é uma cadeia interligada e que cada processo obtém um resultado desde que seja organizado.

Entender que a cozinha é um coletivo e eu posso ser o melhor chefe do mundo, se eu não tiver pessoas conectadas, baseadas em um propósito único, aquilo que movimente o coração delas para fazer o ato de cozinhar ser real, não vai dar certo, porque cozinhar é transformar o alimento com a sua mão e isso tem todo um aspecto de inspiração.

Conectar as pessoas é o primeiro processo, viver o propósito, ter um propósito direcionado, ter uma cozinha clara naquilo que você quer expressar e você entender que está dentro de uma dinâmica.

Nessa trajetória, quais momentos te marcaram por serem grandes desafios e grandes conquistas?

Deus me honrou muito nessa caminhada de 20 anos de cozinha. Eu acho que tiveram vários momentos que me marcaram na minha vida. Primeiramente, ser formado em Gastronomia no Senac São Paulo, acho que era o meu grande sonho. E isso pago pelo Senac Ceará, que fez esse investimento na minha carreira. O ápice inicial desse processo.

Tiveram outros ápices. Rodei quase o Brasil inteiro juntamente com o Projeto Fartura. Rodei Norte e Nordeste, Sul e Sudeste, Centro-Oeste. Rodei o Brasil inteiro, cozinhando, levando a gastronomia do Estado do Ceará.

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O Fartura também me levou, por duas edições, para fora do país. Tive a oportunidade de cozinhar em restaurantes estrela Michelin ou com chefes consagrados, fora do meu país, levando a cultura alimentar do Ceará, levando a minha cozinha e isso também foi muito bacana.

Tive também a honra, juntamente com a Revista Prazeres na Mesa, de ser um dos coordenadores do Projeto Mesa ao Vivo, no Ceará. Nesse projeto a gente teve muitos chefes renomados que passaram pelo projeto.

Por consequência, tive a oportunidade de subir duas vezes ao palco do Mesa Tendência, o ápice do evento de gastronomia brasileira. Fui duas vezes falando da cozinha do Ceará.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Quem é o Ivan fora da cozinha? O que gosta de fazer e o que te representa?

Fora da cozinha eu sou o marido da Priscila, o pai da Ana Laura, o pai do Raul, um cara temente a Deus e vivo para minha família e vivo para louvar a Deus e agradecer tudo que eu tenho, que eu gosto de fazer é isso, que eu gosto de estar na presença dos meus filhos, na presença da minha família, na minha casa, com os meus amigos, ir para a igreja e viver a vida.

Cozinhar para as pessoas, que é o meu ato de amor maior. Eu brinco muito que a comida é transformar e materializar o sentimento mais nobre e puro que é o amor em algo comestível. Isso pra mim é um ato de cozinhar. Então, eu gosto de estar com quem eu amo, estar no locais que me fazem bem. Com a minha família, sempre, com a minha esposa do meu lado, sempre. E é isso. É isso que eu gosto de fazer.

Ivan, você acumula reconhecimentos na sua carreira, incluindo Melhor Chef da cidade em 2023. O que você ainda sonha em conquistar na sua trajetória profissional?

Eu acho que o meu grande desejo é que a minha arte ela dure por muito tempo. E que um pouco da minha forma de ser, da minha forma de agir, os meus propósitos, os meus valores, eles estejam inseridos no coração de cada um que teve a oportunidade de trabalhar comigo e fazer de verdade.

Prêmio Melhores Sabores da Cidade 2023

Então, se eu conseguir atingir isso, se eu conseguir que as pessoas lembrem de mim como um cara legal, como um cara que sabe lidar com pessoas, um cara que é humilde, um cara que não tem soberba dentro do coração dele e que ama cozinhar. E ama transformar o alimento. Se eu conseguir perpetuar os meus ensinamentos e as minhas características no coração de cada um que trabalhou comigo, eu estou satisfeito.

O resto das conquistas são consequências, o resto das conquistas materiais são consequências e frutos disso, frutos do uso e do dom que Deus me deu para liderar pessoas, para ver a cozinha, e é isso que eu peço.

E seguir o que Deus colocar na minha vida, eu acho que a gente muito tempo tenta buscar as coisas no braço, mas o que a gente tem que fazer é observar o posicionamento que Deus coloca na nossa vida e se posicionar, e eu percebi durante a minha trajetória de vida que Deus me colocava um posicionamento e de forma inconsciente eu estava lá presente para fazer tudo aquilo que ele achava que tinha que ser feito e utilizar o dom que ele me deu. Para mudar a vida de pessoas, para transformar ambientes, para mudar o alimento e é isso que eu faço.

Sobre o Siá Restaurante, como tem sido essa aventura de fundar e comandar um negócio? Há alguma novidade no restaurante para 2025?

O Siá é o resultado de uma carreira consolidada, fruto de um presente que Deus colocou na minha vida. Eu sempre quis ter meu próprio negócio, expressar a minha arte sem amarras, sem limites.

E o Siá surge como um restaurante que busca fazer comida autoral, como essência, com uso do ingrediente local, mas o principal é que a gente não vende comida, vende experiência.

Eu não faço uma comida para o mercado, eu faço a minha visão. a comida tem que ser uma inspiração para mim, para a minha equipe e para quem come, então esse carinho, afeto, amor, a gente tenta desenvolver e trabalhar.

O Ivo foi o eu sócio que ajudou a construir essa ideia, que deu a oportunidade de estar nesse processo. Foi o cara que me deu a mão. E o hotel também que deu a oportunidade de a gente estar lá. Para 2025, é a gente se consolidar no mercado de Fortaleza.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Como está sendo assumir o legado do chef Bernard no Beach Park, ele que foi um dos primeiros profissionais a te ensinar no início da carreira?

É muita honra, o Bernard foi o meu primeiro chefe oficial, chefe com essa palavra, que eu tive a oportunidade de trabalhar, ele me ensinou muito, muito da cozinha clássica que eu aplico hoje, eu aprendi com ele e dar continuidade ao legado dele é uma honra muito grande pra mim.

E o Beach Park também é um negócio gigantesco, é o Ceará, quando a gente fala de Ceará, a gente fala de Beach Park, e estar comandando toda a parte de gastronomia do Beach Park para mim é uma honra muito grande, e fico muito feliz de estar aqui e poder viver esse propósito também na minha vida.

É incrível porque o Beach Park ele traz uma demanda uma carga de vou dizer assim de ser mútuo, de ser diverso, o Beach Park ele tem muito negócios, tem hotel, a praia, que é o outro modelo de negócio, a gente tem o parque também, que tem outro modelo de negócio e outro mix de produto, então, assim, é muito diverso e isso é interessante para mim porque a cabeça tem que rodar em várias áreas e tomar decisões.

E isso para mim é incrível porque eu achava que é o que faltava, a cereja do bolo de toda essa carreira que eu vinha construindo, né? Então eu sou muito feliz de estar aqui, eu sou muito feliz do que eu faço aqui dentro do Beach Park. E pra mim, tá fazendo o que eu estou fazendo é muita honra. E é um resultado de uma carreira feita de forma limpa, né? Feita de forma honrada e o principal é feita com o coração.

Por último, qual o conselho para quem está iniciando na gastronomia e deseja ter, além do próprio negócio, uma carreira de destaque como a sua?

Primeiramente, compreenda o que é a profissão, quais são os valores que um cozinheiro tem que ter, ainda a técnica é essencial para o processo, mas a habilidade é forjada no dia a dia. Não adianta só ter a técnica, se não tiver o exercício da técnica, não adianta de nada.

E não é simplesmente só saber fazer, você tem que saber o porquê faz aquilo. É muito importante. Tem três pilares, a prática, que é a habilidade do fazer; a teoria, que é o porquê eu faço e as consequências da minha ação, o resultado; e o exercício, que é a constância, que vai te evoluir para uma nova etapa.

Tem que ter os valores bem sedimentados e compreender que sozinho não se consegue nada. Ter humildade no processo para saber que depende do outro.

Pitadas de Ivan Prado

O que não pode faltar na sua cozinha?
Pimenta de cheiro, gengibre, raspas de limão, manteiga e queijo.

Qual receita de família é marcante para você? De quem é?
Bolo de coco gelado da minha bisavó Nazaré, que ela sempre fazia.

Uma música para ouvir cozinhando?
No pré-preparo, música sempre.

Livro predileto? Não precisa ser de gastronomia.
Por Uma Gastronomia Brasileira, do Alex Atala; Estrelas no Céu da Boca, do Carlos Alberto Dória.

Para você, quais os sabores da cidade de Fortaleza?
Gosto de comida simples. O Muvuco, para mim, é uma cozinha muito massa. Também gosto de sushi. A Molino.

Um lugar em Fortaleza fora da cozinha?
Gosto muito da Beira-Mar.

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