A paixão de Maha Sati pela culinária começou ainda na infância, embora ela só tenha se dedicado profissionalmente no ramo após mudar de carreira, saindo do varejo. A chef e empreendedora toca o Mandir, restaurante de cozinha vegana em Fortaleza.

Criada vegetariana, ela abraçou o veganismo no início de sua jornada profissional na cozinha, quando passou a desenvolver versões veganas de receitas de pratos populares brasileiros, como a coxinha, iguaria tão querida.
Na capital cearense, a chef comando o Mandir, fundando por sua mãe e irmão, e que vem se tornando referência na cozinha vegana na cidade. A casa, como destaca Maha, tem foco na sustentabilidade, com um atendimento afetivo e no uso de alimentos como uma forma de realizar conforto e cura.
Mas, na trajetória do restaurante, episódios marcam a dificuldade que pode ser manter um negócio. O Mandir, após a pandemia de Covid-19, iniciada em 2020, sofreu um golpe quando estava passando por uma grande reforma. Até hoje, Maha conta que ainda lida com os desdobramentos desse momento. Para ela, a cozinha foi um lugar onde ela pode encontrar forças para continuar.
O seu restaurante tem sido um grande destaque em Fortaleza. Na edição 2025 do prêmio Melhores Sabores da Cidade, a casa venceu na categoria “Aquela comida vegana imperdível” com 27,8% dos votos, além de ter conquistado o lugar de mais votado na premiação em edições anteriores.
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Ao Sabores da Cidade, Maha detalhou sua trajetória profissional e a história do Mandir. Conheça a chef que, além de comandar uma cozinha, compartilha seu amor por animais resgatados, reunindo em casa sete cachorros e oito gatos.
Leia a entrevista na íntegra abaixo.
Sabores da Cidade: Maha, como a gastronomia entrou na sua vida? É algo que vem de família?
Maha Sati: Eu cresci com a minha mãe sempre fazendo comidas gostosas em casa. Bolos, tortas, pães etc. Então, a cozinha sempre foi um lugar afetivo e de muita intimidade para mim.
A primeira panela que eu mexi, foi com sete anos e eu fiz um molho de tomate com a minha mãe. Aos nove anos eu já cozinhava com a equipe de uma cozinha quase profissional.
Seguir na gastronomia sempre foi a carreira dos seus sonhos ou também pensou em trilhar outros caminhos?
Não era, eu nunca acreditei que eu poderia cozinhar como profissão. Sempre amei cozinhar para as pessoas, como amigos e familiares. Eu segui carreira no varejo, com vendas e liderança de equipe.
Até eu não me ver mais naquele cenário profissional, e meus amigos me incentivarem a cozinhar profissionalmente. E deu muito certo, comecei em Osasco (SP) com salgados que eu fornecia para bares e feiras veganas.
Como o veganismo se tornou a sua filosofia? O que te inspira a seguir inovando nesse ramo da culinária vegana?
Eu nasci vegetariana, fui criada entendo que animais não são alimentos, que eles sofrem igualmente a nós. Mas sempre consumi lácteos. Eu me tornei vegana quando comecei os meus primeiros passos na gastronomia. Comecei e desenvolver receitas em versão vegana dos salgados que o brasileiro ama, como coxinha, quibe, entre outros.
Maha, o restaurante Mandir é referência quando o assunto é cozinha vegana em Fortaleza. Como surgiu a ideia de fundar o restaurante?
O restaurante foi fundado pela minha mãe e pelo meu irmão, eles entenderam que alimentar o próximo sempre fez parte da nossa vida. Cozinhar e alimentar com amor sempre fez parte da nossa vida. E, na época, o Mandir era bem em frente à reitoria da UFC (Universidade Federal do Ceará), e fez parte da rotina de muitos estudantes e professores
Como o restaurante busca seguir uma linha sustentável de produção dentro dessa filosofia vegana?
A gente busca ter o mínimo de descarte de legumes, elaboramos receitas que aproveita o máximo dos legumes, não só para evitar o excesso de lixo, mas também por respeito a natureza que produziu alimentos tão ricos em nutrientes. Evitamos ao máximo o consumo de plástico e não consumimos embalagens não recicláveis.
O Mandir tem conquistado nos últimos anos o prêmio de melhor restaurante vegano no Melhores Sabores da Cidade. O que essa conquista representa?
Representa que estamos conseguindo levar uma comida afetiva e saborosa para quem estamos servindo. Uma comida que leva conforto e quentinho para o coração. Porque comida não é apenas para alimentar o corpo, ela leva cura, carinho, afetividade, alegria. Ou também pode levar tudo isso ao contrário dependendo dos insumos e energia presente na hora da produção.

Fora a comida, tem também o atendimento afetivo, que trata o cliente com amor e carinho, como se estivéssemos recebendo um amigo querido em nossa casa.
O Mandir sofreu após a pandemia um golpe, certo?
Acabou com a minha saúde mental, tive que me reinventar pra continuar, porque eu não tinha escolha. Os engenheiros sumiram, fecharam o CNPJ, e ficamos com a obra pela metade. Com isso o movimento nunca mais voltou ao que era antes, e a dificuldade de terminar a obra ainda ainda é grande. O desafio foi de saúde mental, e financeira.
Entrei em depressão e crises fortes de ansiedade. Sem poder tirar licença para me cuidar, por exemplo. Trabalhei assim mesmo para não fechar. Hoje continuo me tratando, mas estou melhor. O amor pela cozinha sempre me deu força para não desistir, sempre foi minha força para continuar.
O que destaca, na sua trajetória, de conquistas e momentos especiais vividos por meio do Mandir?
Minha maior conquista está sendo todo o aprendizado que venho tendo com o Mandir! Ter pessoas incríveis que já passaram por aqui e me ensinaram sempre a ser uma pessoa e profissional melhor.
Os prêmios são consequências de muito aprendizado, de muita perseverança, desejo de ser cada dia melhor no que fazemos.
O Mandir mostra-me todos os dias que eu nasci para cozinhar e servir com amor. Mostra todos os dias que amo o que eu faço, que é cozinhar e mostrar para a equipe que ela é capaz de fazer igual.
Para além da cozinha, quem é a Maha Sati quando não é chef e empreendedora? O que gosta de fazer no tempo livre?
Fora do Mandir eu sou mãe de pet! Meu tempo é praticamente para amar e cuidar de sete cachorros e oito gatos. Resgatados, curados e hoje muito amados. Gosto de observar a natureza, ler um bom livro, ver programas de culinária e filmes. Cuidar da espiritualidade também está no meu dia a dia.
Pitadas de Maha Sati

O que não pode faltar na sua cozinha?
Alegria.
Qual receita de família é marcante para você? De quem é?
Torta de banana da minha mãe.
Uma música para ouvir cozinhando?
Qualquer uma do Roupa Nova.
Livro predileto? Não precisa ser de gastronomia.
O Mundo de Sofia.
Para você, quais os sabores da cidade de Fortaleza?
Sabores doces e perfumados. Manga, caju, coco e rapadura.
Um lugar em Fortaleza fora da cozinha?
O mar.