Crônica: comida de vó

Por Ítalo Borges – Especial para o Sabores da Cidade

Tardes de domingo em um apartamento que se tornava pequeno, haja vista a quantidade de primos de minha idade, alguns mais velhos, além dos tios, tias, vovô e vovó, bastante conversa, beijos e abraços. 

Um encontro permeado de muito afeto no qual o ponto alto, pelo menos para mim, era perceber o amor que vovó Ivone transmitia por meio daquela mesa posta. Para ela, o mais importante era que as crianças estivessem felizes e para isso tínhamos que estar bem alimentados. Ah… E essa missão ela cumpria com louvor. 

Nunca serei capaz de descrever de modo fidedigno o aroma que exalava da abertura do forno, aquela travessa de purê (vovó chamava pirê, e eu achava o máximo) acompanhada de uma carne assada, digo acompanhada porque aquele purê, em si, era meu próprio banquete. 

Vovó o preparava de um modo que sua textura lembrava uma suave torta, de tenra firmeza no centro aliada a uma fina crosta crocante e saborosa que se formava na parte mais próximas às laterais da travessa, aquele queimadinho, sabe? Sua coloração era ainda especial por ser diferente dos que eu já experimentara em meu parco repertório gastronômico de um menino de cinco anos, que provara purês de cor de batata mesmo, claros, brancos, pálidos. Já o de Vovó ia na contramão e se apresentava com uma cor amarelo solar e radiante, minha mente pueril pode até ter poetizado a cor, haja vista a força gustativa, mas sem dúvida, aquele purê era “bronzeado”, tinha cor, além de sabor e textura. 

Uma verdadeira iguaria para aquele menininho que aguardava ansiosamente a oportunidade de visitá-la, receber aquele afago, beijo, carinho, mas sobretudo o amor que era devotado à família e que, indubitavelmente, estava materializado em um encontro com a enorme prole. O seu sorriso em um almoço de domingo permanecerá, como um legado, sempre no meu coração, Vovó Ivone.

Vovó Ivone e Ítalo Borges

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