Por Italo Borges
Especial para o Sabores da Cidade
Sempre chamou minha atenção pessoas que, ao beber vinho, sabiam explicar suas nuances e peculiaridades. Com o tempo, percebi que há uma categoria que se convencionou chamar de “enochatos”, que por sua vez seriam os degustadores com excessos de preciosismos e até algum grau de preconceito. Se me permite uma dica: fuja desses últimos! Como entusiasta do assunto, sem qualquer formação técnica, aproveito toda e qualquer oportunidade para conhecer algo da mais espirituosa das bebidas.
Uma experiência e tanto foi a degustação guiada por uma profissional experiente e que nos sugeriu harmonizações, que ora passo a relatar. Mesmo com informações profundas e alguns detalhes técnicos, a abordagem se deu de modo claro e simples, combinando história, memória, aromas, sabores e fomos guiados à compreensão das propriedades organolépticas da bebida, que nada mais são do que as sensações perceptíveis, sem nem mesmo nos darmos conta.
Em uma sexta-feira, final de tarde, contamos com condução magistral de Jardênia Siqueira que, didática e descontraidamente, sugeriu um Sauvignon Blanc Gran Reserva da chilena Tabalí, de toques herbáceos e minerais harmonizado com brusquetas napolitanas, um verdadeiro encontro de leveza e delicadeza. Penso que a suavidade da mussarela de búfala aliada ao frescor do molho sobre o pão receberam muito bem a acidez do Sauvignon Blanc.
O passo seguinte foi o icônico Lote 43, safra 2018, da brasileira Miolo, um tinto que mostra a que veio. Cabernet Sauvignon e Merlot em um corte que nos oferece intensidade rubi aos olhos e frutas negras, tabaco, madeira, cacau, dentre outros aromas no olfato. A potência desse 2018 nos proporcionou três possibilidades de harmonização: passamos por um suculento filé ao molho e risotos, um ao funghi, e outro de alho poró. Asseguro que as conjunções sensoriais, sobretudo do risoto ao funghi com esse tinto orgulho nacional sintetizam as possibilidades do que classifico, à Stevenson, como poesia engarrafada.
Compartir a mesa revela a essência do vinho, possibilitando sermos conduzidos tanto às alegrias, momentos de puro júbilo, quanto a desabafos heroicos inerentes ao quotidiano. Quem nunca lançou mão desse recurso “terapêutico” de um vinho entre amigos? A experiência de estar junto, compartilhando o pão e o vinho, tem raízes ancestrais que nos remete à gênese da cultura, espiritualidade e filosofia ocidentais. Afinal, do Symposium Platônico à Santa Ceia Cristã, a comensalidade permeia diálogos e parábolas imortalizadas e marcadas no inconsciente coletivo.
Portanto, meus amigos leitores, curiosos e entusiastas desse universo enogastronômico, saibamos desfrutar os prazeres que uma mesa e harmonizações aliadas a um bate papo com amigos e toda a revitalização que um bom vinho pode nos proporcionar, funcionando como um legítimo tônico ou elixir do bem viver.
Loja D’Vinos Wine Store
Endereço: Av. Senador Virgílio Távora, 665, Meireles.
Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 11h às 21h; Sábado, das 10h às 21h.
Wine Bar: Quarta, das 16h às 22h; quinta a sábado, das 16h às 23h.
Redes sociais: https://www.instagram.com/lojadvinos/
Italo, que texto delicioso de se ler.
Que retórica indefectível! Confesso que foi um grande prazer partilhar aquela tarde de sábado com vocês. Momento despretencioso e agradável que eu jamais conseguiria em palavras descrever. Mas você, transcreveu de forma perfeita essa tarde cheia de sabores. Por mais momentos e textos como esse. Parabéns! 🍷
Jardenia, sua condução foi o que nos proporcionou a inspiração necessária.
Vida longa!!!
Caro Italo Borges,
É sempre muito interessante ler suas crônicas, sempre recheada de detalhes e sabores, este último tão intenso que nos dá até água na boca! Prost! Salud! Skol! Kanpai! Ou ainda como dizem os amantes da boa breja: CHEERS!!!!! rsrsrs
Fico feliz que tenha apreciado, caro Ângelo!
🙏🏼👏🏻❤️