Por Italo Borges
Especial para o Sabores da Cidade
Com a maturidade, tenho percebido uma infância cada vez mais próxima, por mais paradoxal que possa parecer. Saudosismo, nostalgia ou apenas lembranças de uma fase da vida permeada de muito amor, aventuras e descobertas?
Uma infância repleta de primos, viagens de férias ao Sertão Central só poderia me render uma idade adulta repleta de recordações. Talvez por isso eu esteja mergulhando em memórias afetivas e gustativas nesse 12 de outubro, onde as timelines se encontram repletas de bebês e crianças fofas, a maioria, filhos de amigos e conhecidos. Será que os meninos de hoje chegarão, ao menos perto, das “malinações”, dos meninos arteiros de outrora?
Em termos de comidas de criança, será que a infância atual conhece o pão de queijo de rodoviária? Não posso crer que essa iguaria das viagens de férias tenha deixado de existir. Não tinha uma só vez que chegando a Canindé eu não pedisse para a Vó Regina um pãozinho daquele, que só depois vim a descobrir que, do tradicional pão de queijo- aquele mineiro, ele só tinha o nome mesmo, pois trata-se de uma massa de pão frito, mas que preserva a maciez e de queijo vinha, no máximo, uma fina fatia, quando não, apenas o cheiro.
Férias no sertão eram sinônimo de aventuras na caatinga, se espetar nos mandacarus, fantasiar ser paleontólogo, simulando o achado de fósseis quando nos deparávamos com uma carcaça de gado. A inocência da infância não me permitia perceber que a saga sertaneja ainda persistia em plena década de 90: escassez de água, palma forrageira para salvar as criações e muita fé à espera do inverno. Contudo, nada disso quebrava o encanto das manhãs frias com leite mugido na hora, às vezes de vaca, noutras de cabra, um cuscuz ou tapioca, tudo bem diferente das manhãs na capital, que eram embaladas por idas à padaria para comprar o pão carioquinha e o leite pasteurizado, já que no sertão a caminhada matutina era para o curral, com a caneca na mão.
Tarefas domésticas simples e muito divertidas faziam parte da rotina: milho pras galinhas, coletar os ovos postos, verificar as condições dos pintinhos e das chocadeiras. Uma escapada para ida à bodega “bagulhar” os bombons, minhas primas adoravam, mas eu gostava mesmo era dos tijolinhos. Tijolinho foi como eu aprendi a chamar as cocadas caseiras fabricadas pelo Tio Oscar, era uma verdadeira mini olaria dessa guloseima. Ele os fazia ali na beira fogão à lenha, cheiro de côco e açúcar no ar, uma forma de madeira, que mais parecia um escada em mínimas proporções, e que dava a o formato de pequenos tijolos. Ah… como eram saborosos. Uma grande vantagem é que podíamos surrupiar um ou outro que, ainda mornos, eram incrivelmente mais saborosos e que nos davam a energia mais que necessária para as desabaladas carreiras aos roçados, currais, chiqueiros e mangueirais.
Pé no chão, sol quente, sombras frondosas, escaladas de árvore e uma fruta mordida no próprio pé é o resumo do meu desejo de Feliz Dia à criança que existe em cada adulto.