Por Klaustrianne Queiroga
Especial para o Sabores da Cidade
Sair de casa para comer fora ou apenas pedir um delivery de comida vegana pode se tornar uma verdadeira saga recheada de estresse e aborrecimento para os veganos em Fortaleza. A falta de compromisso dos restaurantes em comunicar corretamente os ingredientes dos pratos, oferecer opções nutritivas e saborosas ao invés da monotemática moqueca de banana, e treinar os funcionários para um bom atendimento tem sido cada vez mais corriqueira para os veganos aqui na capital.
Não é raro encontrar nos menus dos restaurantes uma opção vegana, mas é unânime que os cardápios se repetem, nem sempre atendem às necessidades nutricionais, ou seja, é vendido como prato principal, mas não tem os nutrientes essenciais. Sem falar que, se a pessoa voltar ao estabelecimento, ela vai sempre comer o mesmo prato, não por escolha, mas por falta de opção. Geralmente, também não tem opção de sobremesa vegana. Em muitos self-services faltam as plaquinhas com as legendas dos pratos e seus ingredientes/alergênicos.
Recentemente pedi um delivery de um grande restaurante na região sul de Fortaleza que vendeu um prato vegano, mas ao comer eu percebi um gosto de ovo. O prato estava com sabor diferente das versões anteriores que eu já comi do mesmo local, e após tantos anos sendo vegana, o paladar e o olfato ficam mais sensíveis para perceber esses ingredientes. Pensei logo em revisar o cardápio e para minha surpresa e decepção, no menu digital, o prato estava descrito como vegano, mas tinha o símbolo de ovo na tabela de alergênicos. Entrei em contato e o atendente disse ter sido apenas um erro de digitação e desligou o telefone na minha cara. Liguei novamente e pedi que ele me ouvisse. Expliquei que para nós veganos, o respeito ao atendimento e a confiança na legitimidade do cardápio eram fundamentais para uma boa relação, sem falar na gravidade de oferecer risco às pessoas alérgicas.
Penso que falta compromisso de grande parte dos proprietários de restaurantes em oferecer pratos mais criativos, saborosos, nutritivos e variados, em treinar suas equipes para que eles possam entender o que significa ser vegano ( a grande maioria não sabe mesmo), em entender a composição dos pratos e em oferecer adaptações sempre que possível, além de comunicar corretamente o cardápio. Tenho meus locais em Fortaleza onde isso acontece e sou muito bem atendida, mas confesso que sair de casa para comer em restaurantes convencionais me faz querer cada vez mais cozinhar em casa ou ir apenas para os restaurantes veganos, onde posso comer sem preocupações ou sem ficar perguntando para os garçons ou chefs de cozinha o que tem de fato nos pratos e ter que acreditar neles.
Vou mais além. Antes, eu sempre pedia que os restaurantes pudessem ter apenas uma opção vegana, mas hoje já penso diferente. É preciso ter muitas opções veganas. É preciso inovar a maneira de produzir pratos saborosos, pensando em diminuir as emissões de carbono, o consumo de água e a crueldade contra os animais. É preciso ousar mais na criatividade e elaboração dos pratos, conhecer as inúmeras possibilidades com utilização de ingredientes regionais e tornar a comida mais inclusiva para todos, inclusive às pessoas com alergias alimentares. Fica aqui o meu apelo em nome desse público que só cresce no Brasil e no mundo. E Fortaleza, como a quarta capital do país, ainda necessita avançar.
Klaustrianne Queiroga é vegana há 8 anos, vegetariana por 20 anos, Especialista em Educação Ambiental e tem MBA em EGS.