Pesquisadora e agricultora, Rojane Alves gera desenvolvimento e inovação no campo por meio de produtos à base de coco

Rojane Alves (Foto: Arquivo pessoal)

Rojane Alves, nascida e criada na comunidade do Sítio Coqueiro, bem no Assentamento Maceió, localizado em Itapipoca, permanece no campo e faz dele um espaço inovação. Por meio do coco, ela e o lugar onde vive, apostam no desenvolvimento pautado na agroecologia e dignidade para um “bem viver”, como diz.

Ela é bacharel em Administração e pesquisadora em Cultura Alimentar. Vive, até hoje, na comunidade do Sítio Coqueiro, onde aprendeu a “conviver, a viver em comunidade”. “É o meu lugar de paz, onde me sinto bem e, para mim, é o meu lugar de aconchego”, expressa.

O coco é o centro da produção da comunidade. O aproveitamento, em sua totalidade, rende diversos produtos feitos no local e que levaram para o assentamento alguns reconhecimentos valiosos.

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A pesquisadora participou do 3º Laboratório de Criação em Cultura Alimentar e Gastronomia Social, da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco (EGSIDB). Na ocasião, a pesquisa proporcionou ao grupo Balanço do Coqueiro, do qual ela faz parte, aprimorar aspectos importantes do sistema de produção do óleo de coco, possibilitando a qualificação do processo.

O grupo Balanço do Coqueiro produz e comercializa coco ralado in natura e farinha de coco, produtos que são comercializados em feiras agroecológicas e solidárias de Itapipoca e também em Fortaleza. No Laboratório, a pesquisadora conseguiu incorporar novas técnicas à produção do óleo de coco agroecológico, mantendo as características da produção artesanal.

A otimização do processo também buscou respeitar os métodos tradicionais de produção, que são passados na comunidade entre gerações.

De lá para cá, um importante prêmio chegou e selou o trabalho enriquecedor realizado na comunidade. Rojane recebeu a terceira colocação no Prêmio Sustentabilidade da Naturaltech 2025, em São Paulo.

Ao Sabores da Cidade, Rojane Alves traz mais sobre onde vive e como se organizam baseados na agroecologia, além de compartilhar um pouco mais sobre suas versões que se desdobram na pesquisa, agricultura, família e na comunidade.

No Assentamento Maceió, como a comunidade aplica os princípios da agroecologia na produção dos produtos feitos nela?

O assentamento é bem amplo, então ainda é um pouco complicado fazer com que todas as comunidades sigam o rumo da agroecologia, mas especificamente aqui na comunidade a gente ainda consegue, mais ou menos, fazer com que as pessoas tenham suas plantações e possam fazer o uso da agroecologia, o uso da adubação orgânica das suas plantações, como fazendo compostagem, usando o esteco dos animais sem usar os defensivos químicos. Então, essa forma também de ter o cuidado tanto com a terra como das outras pessoas, isso para gente é agroecologia.

O que representa a sua permanência e a de outros jovens no campo?

Permanecer no campo é fazer com que a gente enxergue e faça o desenvolvimento do lugar onde a gente vive. Tanto do o desenvolvimento econômico quanto do local. E também que a gente possa acreditar, ir atrás de políticas públicas para poder viver no campo e permanecer com dignidade, em busca também do bem viver.

Sobre o famoso óleo de coco da comunidade, como funciona a produção? E como o coco é aproveitado em sua totalidade para gerar renda?

Rojane e o grupo Balanço do Coqueiro (Foto: Arquivo pessoal)

Os cocos são plantados e colhidos aqui no assentamento, na região, na comunidade. Por ser uma região litorânea, então tem bastante matéria-prima. A gente faz essa produção do óleo de coco e também de outros produtos beneficiados do coco. Hoje em dia a gente está com mais de seis produtos. Tem o coco ralado, a farinha, o óleo, o sabonete e a manteiga.

Você participou da terceira edição do Laboratório de Criação da Escola de Gastronomia Social e produziu um óleo de coco agroecológico. O que destaca dessa experiência?

Nossa pesquisa dentro da escola, do Laboratório de Criação, foi para aprimorar o óleo. Ele já era feito, então a gente entrou lá para aprimorar e também fazer o bom uso de outros produtos. No caso, o óleo de coco, a gente conseguia fazer ele em dois dias.

E aí, quando a gente recebe a mentoria do Fábio Menna e do Jerônimo Villas-Bôas, que são da Reenvolver, a gente consegue adiantar a etapa do processo, no processo de fermentação. Quando a gente fazia em dois dias, a gente conseguiu fazer em 24 horas.

Foto: Reprodução/Escola de Gastronomia Social

E também sobre o aproveitamento da farinha de coco, tivemos oficinas com Adriano Tricheffi e fizemos o bom uso da farinha, aprendemos a fazer a manteiga de coco e isso gera muita renda na comunidade, porque quando a gente está comprando o coco e está gerando o produto, isso vai formando uma economia local.

Além da visita técnica que foi feita na comunidade. O que mais me chamou a atenção na questão da pesquisa no Laboratório de Criação, da Escola de Gastronomia, é essa inserção de o técnico junto com a comunidade, vivenciar a experiência no território. Então, toda a questão das formações que a gente teve, isso para mim foi bem impactante. E trouxe bons resultados.

O óleo de coco agroecológico recebeu o terceiro lugar no Prêmio NatutalTech, na feira que ocorreu em São Paulo. O que essa conquista representa para você?

Sobre a premiação da NaturalTech, também ressalto a questão das políticas públicas, porque em 2021 a gente foi contemplado com o projeto Juventudes Rurais, que é pelo governo do Estado, e a gente recebeu alguns equipamentos também para aprimorar a questão da produção do óleo de coco e dos outros produtos, e ano passado o governo do Estado levou uma caravana de cooperativas, de associações, e quando foi esse ano eu fui de novo, escrevi o produto, que era o óleo de coco, na categoria sustentabilidade.

Rojane conquistou o 3º lugar no prêmio NaturalTech 2025 (Foto: Arquivo pessoal)

Para mim, para toda a comunidade, foi bem emocionante, porque isso representa para a gente que a gente está fazendo um trabalho bem feito, que muitas vezes não é visto por outras pessoas de como o óleo de coco é importante para nossas vidas, porque não é só um produto, não é só uma história de uma pessoa, é a história de uma comunidade, de um assentamento, e isso para a gente é reconhecimento de que a gente está no caminho certo, está fazendo a coisa certa, reconhecendo também os apoios, as parcerias que a gente teve para poder chegar onde a gente está hoje. Então, esse prêmio representa muita coisa e que a gente está em êxtase ainda.

Como uma das lideranças do grupo Balanço de Coqueiro, o que você ainda deseja alcançar para a comunidade?

Eu desejo alcançar ainda juntamente com a comunidade essa questão de inspirar outras pessoas e buscar com que a comunidade cresça ainda mais em questão da agroecologia como um desenvolvimento que possa ser bom para todo mundo, que ela cresça e que a gente possa sim viver com dignidade e viver bem.

Conta um pouco mais sobre quem é a Rojane quando não está no campo. O que gosta de fazer?

Eu gosto muito de viajar, de conhecer novas culturas, novos lugares. Gosto também de estar no grupo artístico-cultural Malas do Coqueiro, nos espetáculos, né? Nas quadrilhas também, quando não estou em quadra, gosto de assistir. Gosto também de estar nos espaços que me fazem bem, né? Como assistir um filme no cinema, ver um espetáculo de danças, coisas assim. E ir para praia, lagoas, estar com os amigos.

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