
Por Italo Borges
Especial para o Sabores da Cidade
Amanhece no Litoral Oeste do Ceará, estamos em Camocim, terra de lindas praias, imensas lagoas e paisagens naturais deslumbrantes. Contudo, o que me fez acordar às 05h30 da manhã em plena segunda-feira foi uma iguaria da Cultura Alimentar local.
O relato de um amigo camocinense foi o de que se chegasse tarde ao Mercado Municipal não sobraria mais nada, pois a clientela assídua levanta cedo e a produção é limitada.
Antes das 6h, chegamos ao Mercado em busca do Box 24, passamos pelas bancas de frutas e legumes, há tempos não via o murici, frutinha que rende um suco ao estilo “ame ou odeie”, mas nosso objetivo era a famosa merenda matutina da cidade. Para tanto, teríamos que encontrar a banca exata, a fundada pelo sr. Manduca há quase um século.
Após a área de frutas, pude perceber um burburinho e bastante gente chegando, só podia ser ali, o ponto de venda do famoso Chá de Burro. O negócio foi chegar receber um cordial bom dia e tomar assento ao pé do balcão. Por uns instantes fiquei a observar o Naldo, terceira geração, neto de Manduca e filho de Evandro, despachando o chá de burro com agilidade e cumprimentando a clientela.
Ó o chá de burro. Tem de R$ 5 e de R$ 10. Vai canela?
Alerto a você que o chá de burro não é chá e tampouco é de burro. Trata-se de um mingau de milho com leite de coco, sal e açúcar, que guarda semelhança com o tradicional mungunzá doce das festas juninas, e é servido com um cuscuz de arroz que traz aquela sustança para a refeição. Ah… hoje em dia tem um pouquinho de leite em pó na receita. Antes, ele era feito somente com ingredientes de origem vegetal. Quando o cliente pedia, seu Manduca dava a opção de incluir o leite de gado, à época líquido. Hoje, Naldo já adiciona o ingrediente em pó na receita. Mas, diz: “É bem pouquinho só para dar um gostinho”.
Pedi dois de R$ 5, completos, com o cuscuz de arroz e canela, para mim e @izakeline-ribeiro. A merenda é realmente muito saborosa, tem uma consistência mais leve, é servido morno no ponto de aquecer o estômago rebater aquela frieza da manhã, que dura pouco até subir a temperatura e a gente sentir o calor típico da região.
A experiência gastronômica fica completa com o vai e vem de feirantes, fregueses que chegam da farra ainda cantando, famílias completas aguardando um espaço no concorrido balcão, além dos passantes trazem as vasilhas próprias e levam cheias da iguaria para casa.
O hábito matutino de consumir essa comida virou tradição em Camocim. Ao comentar com meu sogro, sr. Izaque, que é maranhense, ele disse que lá no Maranhão também conhece o mingau com chá de burro. Alguns registros dão conta que a origem do preparo tem raízes africanas e indígenas, sendo também conhecida por outros nomes em outras regiões do Brasil, bem como com adaptações locais.
Quando estiverem em Camocim não deixem de vivenciar esse sabor de Camocim, que é parte da cultura alimentar local. Coloquem o despertador. Vale a pena!
Parabéns pela curiosidade em conhecer e divulgar,pois a cultura alimentar de raiz é um tesouro que precisa ser vivido e lembrado, assim jamais morrerá.
🤩🤩🤩
Tempo, tempo, tempo… saudades de quando saboreava o Chá de burro na volta das festas, servido por Sr Manduca.
Memória afetiva construída com sabor.
Nossa, uma tradição culinária da região que vale a pena conhecer! Confesso que não sabia da existência até ler este artigo. Obrigada por compartilhar ❤️.
Uma tradição de Camocim : )
Esse texto fez a gente entender direitinho do que se trata….deu até vontade de acordar cedinho e ir provar tbem! Parabéns!
Qdo for conhecer vou experimentar!!
🤩
Que interessante!!! Não sabia.
Já quero provar.
Parabéns ao blog!
Vc vai adorar!
Adorei!! Já quero experimentar!!
Realmente é uma iguaria a tradicional, que o camocinense faz questão de manter viva! A cara do meu pai que é natural de lá!
Que maravilha, Mairla! Uma tradição que se mantém fortíssima. Já levou as princesas lá?
Culinária raiz maravilhosa!!!
Atendimento espetacular 👏🏻👏🏻👏🏻